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Inverno castiga iraquianos que fogem do Estado Islâmico em Mosul

27/11/2016 15h36

Por Ulf Laessing

ACAMPAMENTO HASSAN SHAM, Iraque (Reuters) - Passando por dezenas de pessoas, o professor iraquiano Umar Salah carrega quatro sacos contendo 15 cobertores e panelas cheias de comida pelo portão de um acampamento superlotado de civis que fugiram do Estado Islâmico em Mosul.

Soldados só abrem o portão, ocasionalmente, para permitir que civis tragam suprimentos a familiares, enquanto as autoridades tentam para acomodar cerca de 1.000 pessoas que buscam diariamente fugir da guerra, desde que as forças iraquianas lançaram uma campanha para expulsar os militantes.

Tropas do governo iraquiano apoiadas pelos EUA e forças de segurança curdas iniciaram a maior batalha no Iraque desde a invasão liderada pelos EUA, em 2003, com o objetivo de expulsar os combatentes do Estado Islâmico de Mosul, o último e maior bastião do grupo militante no país.

A Organização das Nações Unidas (ONU) pede a doadores que financiem kits de inverno para 1,2 milhão de pessoas, preparando-se para um possível cenário no qual grande parte da população pode ainda deixar a cidade. Até agora, 72 mil pessoas já fugiram, e o inverno trouxe temperaturas congelantes.

As autoridades curdas pedem aos civis refugiados que permaneçam nos acampamentos, mesmo com familiares fora, de modo que os homens possam ser controlados por ligações com o Estado Islâmico. Parentes se amontoam do lado de fora, levando cobertores e travesseiros.

"Meus parentes têm gelo em sua barraca à noite", disse Salah, enquanto esperava seus primos e seus cinco filhos para entregar-lhes as malas. "Eles não recebem cobertores suficientes, então eu os trouxe da minha casa."

Salah saiu de Mosul para a cidade curda de Erbil, a 60 km ao leste da cidade, quando o Estado Islâmico varreu a área, em junho de 2014. O resto de sua família fugiu há duas semanas.

Os homens deslocados têm de entregar seus cartões de identificação no dia em que chegam.

"Quero ficar com minha família em Erbil, mas eles nos mantêm aqui", disse um jovem, que deu seu nome apenas como Hisham, prostrado diante de uma barraca onde velava sua esposa e bebê. "Esperei por três semanas."

Esperando uma estadia mais longa, enquanto a guerra se arrasta, muitas famílias levam fogões e utensílios de cozinha ao acampamento. Com soldados dispensando a maioria das pessoas que buscam abrigo no acampamento, dezenas jogam suas malas sobre a cerca.

Os pais matriculavam os filhos nas escolas instaladas nos acampamentos, para muitos, a primeira oportunidade para a escolaridade regular em anos.

"As crianças perderam dois anos, pois as escolas foram fechadas pelo Daesh (Estado Islâmico) ou ensinaram apenas a lei islâmica", disse um professor, que se identificou como Ali.