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Acordo da Odebrecht incentiva investigações sobre corrupção na América Latina

22/12/2016 20h58

Por Mitra Taj e Alexandra Valencia

LIMA/QUITO (Reuters) - Políticos e investigadores da América Latina exigiram mais informações da Odebrecht nesta quinta-feira, após a empresa admitir uma década de grandes pagamentos de propina na região.

Ao concordar pagar pelo menos 3,5 bilhões de dólares a procuradores brasileiros, norte-americanos e suíços, a maior penalidade já aplicada num caso de corrupção no exterior, a Odebrecht admitiu ter pago a autoridades para obter contratos de construção em 12 países, abrindo caminho para novos processos.

Quase 80 por cento dos executivos e funcionários da Odebrecht também concordaram em virar testemunhas como parte de um acordo de leniência, e espera-se que os testemunhos deles forneçam mais evidências sobre corrupção em diversos países.

O presidente do Peru e o líder da oposição venezuelana disseram que a Odebrecht deve explicar os pagamentos nos países deles, enquanto o Equador abriu uma investigação, e o governo da Colômbia pediu à procuradoria-geral para também avançar com uma.

"Promotores vão ter que trazer pessoas da Odebrecht aqui para que explicar para quem elas pagaram", declarou o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, à imprensa, em referência aos 29 milhões de dólares que a Odebrecht disse que pagou a autoridades no país entre 2005 e 2014, período que abrange três governos.

As declarações de culpa da Odebrecht e da Braskem foram as primeiras nos EUA após três anos de investigação no Brasil.

A Odebrecht e a Braskem foram acusadas de conspirar para violar o Ato de Práticas de Corrupção no Exterior norte-americano, que tem como objetivo impedir que empresas corrompam autoridades no exterior.

A Odebrecht afirmou ter pago 439 milhões de dólares fora do Brasil, incluindo Venezuela, República Dominicana e Panamá. Procuradores do país disseram que o Panamá não cooperou com as investigações.

O governo do Panamá disse que apoia uma investigação pela Justiça local que "puniria as empresas e pessoas envolvidas nesses atos". A promotoria federal do Panamá disse que estava pedindo informações sobre a investigação para os EUA.

RODOVIAS, TÚNEIS E METRÔS

Procuradores se dizem seguros que a forma da Odebrecht de fazer negócios no Brasil, onde é acusada de pagar 2 bilhões de dólares em propinas nos últimos 15 anos, é a maneira com a qual ela operava em todo mundo.

Argentina e Peru abriram investigações sobre os contratos de construção da Odebrecht por suspeitas de propina a ex-políticos.

Promotores no Peru recentemente voltaram de uma viagem de trabalho à Suíça, que entregou dados sobre cerca de mil contas bancárias a autoridades brasileiras por conta de suspeitas de que elas estariam ligadas ao escândalo de corrupção.

A polícia no Brasil diz que a Odebrecht pode ter pago propina ao ex-presidente do Peru Ollanta Humala e para autoridades argentinas.

Humala nega irregularidades. Kuczynski, que não foi citado na investigação brasileira, mas era ministro quando a Odebrecht concordou em pagar propina a uma alta autoridade em 2005, disse que não estava envolvido em nenhum esquema de corrupção.

Galo Chiriboga, procurador-geral do Equador, declarou que pediu informações para Brasil e o Departamento de Justiça dos EUA. "Vamos encontrar quem recebeu propina da Odebrecht”, disse.

O chefe da promotoria especial anticorrupção da Guatemala afirmou que já estava investigando as propinas da Odebrecht a uma autoridade de governo, e o presidente Jimmy Morales declarou que o seu governo revisaria todos os contratos com a Odebrecht.

Especialistas em corrupção empresarial afirmaram que as admissões da Odebrecht numa dezena de países, que também incluem México e Angola, poderia levar a novas investigações.

O promotor argentino responsável pelo caso da Odebrecht, Sergio Rodríguez, disse que o acordo da teria um impacto direto na sua investigação, que mira quatro projetos da companhia. Ele tentava contactar promotores brasileiros para saber mais.

"Temos um caso aberto", disse Rodríguez à Reuters.

(Reportagem adicional de Brad Brooks, no Brasil, Nicolas Misculin, na Argentina, Julia Symmes Cobb, na Colômbia, Mica Rosenbergem, Nova York, Elida Moreno, no Panamá, Sofia Menchu, na Guatemala, Joanna Bernstein, no México, Andrew Cawthorne, em Caracas, Jorge Pineda, na República Dominicana)