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ENFOQUE-Brasil amplia refino de óleo nacional com pré-sal e ganha mercados com exportações

17/02/2017 18h45

Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O crescimento da produção de petróleo no pré-sal brasileiro, mais leve do que a média do Brasil, permitiu à Petrobras, monopolista no refino no país, aumentar o uso do óleo nacional em suas refinarias para mais de 90 por cento, reduzindo seus custos operacionais e logísticos.

Ao mesmo tempo, o produto do pré-sal tem ajudado na redução da importação de petróleo mais leve, de maior aproveitamento nas refinarias.

Não bastasse isso, disse com exclusividade à Reuters um executivo da Petrobras, o pré-sal está impulsionando as exportações de óleo cru do Brasil, que foram recordes em janeiro, em um ambiente de retração do consumo de derivados no país, que sofre com uma recessão.

"As propriedades do petróleo do pré-sal facilitam tanto o seu aproveitamento nas refinarias da Petrobras no Brasil quanto a exportação, pois esses petróleos costumam ter um maior valor comercial", disse o gerente-executivo de Logística de Refino e Gás Natural da Petrobras, Cláudio Mastella.

Com o avanço da produção pré-sal no Brasil para 1,262 milhão barris de petróleo por dia (bpd) em dezembro, ou o equivalente a 46 por cento da produção nacional, ante cerca de 34 por cento um ano atrás, o petróleo nacional é suficiente para atender "em grande parte" o mercado de derivados brasileiro, ressaltou o gerente-executivo da Petrobras.

"Um exemplo disso é que o percentual de participação de óleo nacional no total processado pela Petrobras era 82 por cento em 2012 e já estava em 91 por cento no acumulado até setembro de 2016", destacou Mastella, sem detalhar números fechados do ano passado ou comparativos com 2015, em uma entrevista por e-mail.

Mas dados do regulador do mercado de petróleo brasileiro (ANP) confirmam, com base no tamanho da produção de óleo leve, o salto ocorrido no refino do produto nacional nas unidades da Petrobras.

Em dezembro de 2016, 32 por cento da produção brasileira foi de um petróleo considerado leve, contra 7 por cento um ano antes, sob influência da extração do pré-sal, que garante um produto com menor concentração de enxofre e menor acidez, proporcionando maior rendimento de derivados de maior valor agregado, como gasolina, diesel e querosene de aviação.

O executivo da estatal não revelou as atuais taxas de utilização das suas refinarias, que somam mais de 10.

EXPORTAÇÕES TAMBÉM AVANÇAM

Além da Petrobras, estão entre os principais produtores no pré-sal, a Shell --que após a aquisição da BG passou a responder por 10 por cento da extração nacional de petróleo--, a Petrogal, da Galp, e a sino-espanhola Repsol Sinopec.

Essas empresas, além de fornecerem para a própria Petrobras, também têm a possibilidade de ampliarem as exportações a partir do Brasil, que estão crescentes em um ambiente de menor consumo local de derivados. Em janeiro, o Brasil exportou uma máxima histórica de 38,961 milhões de barris de petróleo.

O Brasil aumentou significativamente as exportações de petróleo desde agosto, de acordo com dados da Reuters Trade Flows, para atingir uma média de 1,3 milhão de barris de petróleo por dia (bpd) neste ano até fevereiro, contra 1 milhão de bpd no primeiro semestre de 2016.

A Petrobras e empresas privadas que exportam petróleo brasileiro, incluindo Shell, Repsol, Petrogal e PetroChina, estão agora competindo mais agressivamente para ganhar participação de mercado na costa leste dos EUA, assim como em países como China, Índia, Malásia, Cingapura e Espanha.

O fluxo de novos tipos de petróleo do Brasil também tomou o lugar de alguns petróleos médios africanos no Peru, Uruguai e Chile, de acordo com os dados.

Mas alguns produtores ainda estão tentando reduzir custos relacionados ao uso de plataformas flutuantes e dispendiosas embarcações especializadas, de acordo com os comerciantes que oferecem os novos petróleos do Brasil.

Se esses obstáculos forem eliminados nos próximos meses, o petróleo brasileiro poderá fluir mais para os novos destinos.

E a tendência é que a fatia do pré-sal na produção nacional permaneça em crescimento, enquanto a Petrobras perde participação. Isso acontece porque a empresa produz no pré-sal em parceria com outras petroleiras, ao contrário do que fazia com outras grandes áreas produtoras anteriormente --muitas dessas áreas, operadas apenas pela estatal, são maduras e estão em declínio.

O Brasil deverá produzir 2,84 milhões de bpd em 2017, alta de 8,81 por cento em relação ano passado, segundo estimativa feita pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). No mesmo período, a Petrobras prevê produzir 2,07 milhões de bpd, uma queda de 3,5 por cento.

DESAFIO NO FUTURO

De outro lado, em meio a uma queda de 4,5 por cento no consumo de todos os combustíveis no Brasil em 2016, houve um recuo forte das importações de petróleo bruto pelo Brasil no mesmo período para seu menor nível em pelo menos 19 anos, segundo dados do governo, para 65,179 milhões de barris.

Esse volume representa quase que a metade do total importado em 2015.

Apesar dessa situação, entretanto, o Brasil deverá seguir dependente de importações de combustíveis no futuro, em meio à lentidão no aumento da capacidade brasileira de refino em volumes necessários para atender a crescente demanda esperada, com vários projetos de refinarias, como a Abreu e Lima, em Pernambuco, e Comperj, no Rio de Janeiro, atingidos pelo escândalo de corrupção, o que atrasou as obras.

O especialista Alexandre Szklo, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse à Reuters que a pressão por maior capacidade de refino no Brasil reduziu nos últimos anos, por causa da retração da demanda interna por combustíveis, mas que irá retomar assim que a economia reagir.

A atual gestão da Petrobras, no entanto, já afirmou que não está disposta a investir em novas refinarias sem parceiros, após amargar prejuízos com obras que não foram finalizadas.

Para Szklo, esse será um grande desafio do país, ainda que a produção do pré-sal continue crescendo nos próximos anos.

(Por Marta Nogueira; reportagem adicional de Marianna Parraga, em Houston; edição de Roberto Samora)