Acionistas da Vale propõem pulverizar controle da mineradora
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A mineradora brasileira Vale planeja se tornar uma companhia sem controle definido, segundo um acordo dos seus maiores acionistas publicado nesta segunda-feira, em uma iniciativa que visa aumentar a transparência e a igualdade de direitos para todos os detentores de ação.
Os principais acionistas da Vale concordaram em renovar um acordo que os mantém como um bloco de controle por mais três anos e meio, enquanto preparam uma proposta para listar a empresa no segmento especial do Novo Mercado da Bovespa.
"A transação parece ser uma vitória para os acionistas controladores e minoritários", disse Rodolfo de Angele, analista sênior de materiais básicos da JPMorgan Securities.
A proposta tem caráter vinculante para os acionistas e fica sujeita à aprovação pelos órgãos societários da companhia.
Nos termos do acordo, está prevista a conversão voluntária das ações preferenciais classe A da Vale em ações ordinárias, na relação de 0,9342 ação ordinária por ação preferencial classe A da empresa.
A precificação será definida com base no preço de fechamento das ações ordinárias e preferenciais apurado com base na média dos últimos 30 pregões na Bovespa anteriores a 17 de fevereiro, ponderada pelo volume de ações negociado nesses pregões.
Após esse passo, a Vale incorporará a Valepar, a holding de investimentos que a controla, e pagará aos proprietários da Valepar um prêmio de 10 por cento por suas ações. Esse passo diluirá os acionistas minoritários em 3 por cento e é uma condição prévia para o restante do processo de transformação da estrutura da Vale, que deixaria de existir em novembro de 2020.
Fontes familiarizadas com o assunto disseram à Reuters em janeiro que a Bradespar e o Previ, fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil, buscaram o plano para aumentar o apelo da Vale entre os investidores.
Uma vez que o acordo expirar, nenhum acionista poderá ter mais de 25 por cento da Vale, sob pena de ter que realizar Oferta Pública de Aquisição (Opa) para os demais acionistas titulares de ações ordinárias.
As ações preferenciais da Vale operavam em alta de mais de 5 por cento por volta das 10h50, enquanto as ordinárias tinham alta semelhante.
APROVAÇÃO DO MERCADO
Atualmente, as American Depositary Shares (ADRs) da Vale são negociadas ao equivalente a 10,5 vezes o lucro estimado para este ano, abaixo das rivais Rio Tinto, a 10,7 vezes, e da BHP Billiton, a 15,9 vezes, de acordo com dados da Thomson Reuters.
O acordo também foi avaliado como muito positivo por analistas dos bancos BTG Pactual e Credit Suisse.
"No geral, mensagem é muito positiva para Vale e Bradespar BRAP4.SA", afirmaram em nota a clientes analistas do BTG Pactual, que destacaram o potencial de "mudança de governança brutal" para a companhia sob o novo acordo.
Segundo os analistas do BTG Pactual, as ações da Vale são negociadas atualmente a 6,6 vezes o Ebitda, ante 7,7 vezes o Ebitda de Rio Tinto.
"Assumindo a melhora de governança, é de se esperar que a Vale vá convergir para Rio Tinto, o que se traduziria em criação de valor de 21 por cento para a Vale", escreveram os analistas.
O plano também ajudará a limitar as interferências do governo na empresa. A melhoria da governança decorrente da mudança poderia ajudar as ações da Vale a reduzirem o "gap" de valorização em relação aos seus pares globais de mineração.
Os sócios da Valepar incluem a Previ, a Bradespar, a japonesa Mitsui, BNDESpar e os fundos de pensão Petros, Funcef e Fundação Cesp.
O acordo de transição precisa de apoio do equivalente a 20 por cento das ações com direito a voto da Vale, garantindo a governança necessária para implementar o plano de propriedade diluída, disse o comunicado.
O saldo do ágio de 3,073 bilhões de reais registrado nas demonstrações financeiras da Valepar, e a sua eventual e futura utilização pela Vale, não será objeto de capitalização em favor dos acionistas da Valepar, mas sim em proveito de todos os acionistas da Vale, segundo o comunicado.
(Por Marta Nogueira e Guillermo Parra-Bernal; reportagem adicional de Paula Arend Laier)
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