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Exposição prévia a dengue ou febre do Nilo pode agravar Zika, diz estudo

Julie Steenhuysen

Em Chicago

30/03/2017 17h12

A exposição prévia à dengue ou à febre do Nilo, dois vírus intimamente ligados ao zika, pode agravar os sintomas deste último, disseram pesquisadores dos Estados Unidos nesta quinta-feira (30). 

As descobertas feitas em ratos e publicadas no periódico científico Science confirmam estudos com células que indicam que infecções anteriores de dengue podem piorar os efeitos do zika.

Isso poderia explicar a incidência maior de efeitos graves do zika -- como a microcefalia, uma má formação craniana -- em locais como o Brasil, onde a dengue é comum, e desperta preocupações com vacinas atuais ou experimentais para a dengue das farmacêuticas Sanofi, Takeda Pharmaceutical, GlaxoSmithKline e outras porque estas poderiam intensificar as infecções de zika acidentalmente.

No estudo, uma equipe de pesquisadores da Escola de Medicina Icahn do Hospital Mount Sinai, de Nova York, injetou quantidades muito baixas de anticorpos da dengue ou da febre do Nilo em ratos de laboratório infectados com Zika.

Eles descobriram que os ratos que receberam os anticorpos de qualquer um dos vírus ficaram mais propensos a morrer de zika ou ter mais sintomas graves do que ratos expostos somente ao zika.

Os sintomas foram piores entre ratos infectados com zika que receberam anticorpos da dengue - só 21 por cento deles sobreviveram. A taxa de sobrevivência entre ratos infectados somente com zika foi de 93 por cento.

Os ratos infectados com zika que receberam anticorpos contra dengue também desenvolveram sintomas neurológicos graves, como paralisia de vários membros e, em alguns casos, paralisia corporal total, sintomas que também foram vistos em casos raros de adultos contaminados com zika.

As descobertas ilustram um processo chamado intensificação dependente de anticorpos, já testemunhada em pessoas infectadas com uma das quatro cepas da dengue. Isso ocorre quando proteínas criadas em reação à primeira infecção facilitam a entrada de um vírus relacionado em células anfitriãs.

Tendo em conta as taxas altas de anticorpos da dengue nas regiões mais afetadas pelo zika, os resultados "sugerem que a imunidade preexistente à dengue pode ter contribuído para a propagação rápida do zika nas Américas, possivelmente associada à viremia e a sintomas clínicos acentuados, incluindo a microcefalia", escreveram os pesquisadores.

Quanto a um possível risco maior devido às vacinas, o microbiólogo Jean Lim, um dos autores do estudo, sugeriu que as empresas cogitem combinar uma vacina de dengue e Zika para proteger contra as duas doenças ao mesmo tempo.

Outro lado

Em nota, a Sanofi Pasteur afirmou que "não existem dados epidemiológicos demonstrando que a exposição prévia à dengue seja um fator de risco para ocorrência de infecções mais graves por zika". De acordo com a farmacêutica, essa correlação não tem sido observada em humanos.

A empresa diz ainda que em estudos sobre a vacina contra dengue feitos em Natal, Fortaleza, Campo Grande, Vitória e Goiânia, além de outros países da América Latina, não foram identificados relatos de quadros graves de zika.