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Pais venezuelanos temem enviar filhos à escola por violência em protestos

21.jun.2017 - Crianças não vão ao colégio e fazem tarefa em casa com sua mãe, em dia de protestos na Venezuela - CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS
21.jun.2017 - Crianças não vão ao colégio e fazem tarefa em casa com sua mãe, em dia de protestos na Venezuela Imagem: CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS

Brian Ellsworth e Andreina Aponte

Em Caracas

21/06/2017 11h48

Preocupados com os protestos antigoverno que bloqueiam avenidas e ruas de toda a Venezuela várias vezes por semana, muitos pais venezuelanos passam as noites se fazendo a mesma pergunta: será que meus filhos conseguirão chegar à escola amanhã?

Se os pais temem não conseguir buscar os filhos depois das aulas por causa dos tumultos, os professores muitas vezes são obrigados a faltar ao trabalho devido aos confrontos entre manifestantes e tropas.

Ainda assim, o Ministério da Educação vem se recusando a cancelar as aulas em escolas públicas mesmo quando a violência resultante dos protestos representa um risco para os alunos, principalmente devido ao gás lacrimogêneo disparado para dispersar manifestantes.

O governo também proibiu que as escolas particulares, que atendem cerca de um quarto dos alunos dos ensinos primário e secundário do país, suspendam as aulas.

21.jun.2017 - Alunos indo para a escola se protegem do gás lacrimogêneo lançado nas ruas durante dia de protestos na Venezuela - CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS - CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS
21.jun.2017 - Alunos indo para a escola se protegem do gás lacrimogêneo lançado nas ruas durante dia de protestos na Venezuela
Imagem: CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS

Como resultado, uma das responsabilidades mais rotineiras dos pais --pegar os filhos na escola-- hoje exige planos de contingência que mudam sempre e o cálculo da probabilidade de passarem ilesos pelas manifestações, que já deixaram 75 mortos.

"Olhamos o Twitter até umas 21h30, 22h, e é quando decidimos se vamos levar nosso filho à escola no dia seguinte", disse Ignacio, engenheiro de telecomunicações de 33 anos que pediu que seu sobrenome não fosse mencionado por medo de represálias.

Revoltados com a inflação de três dígitos e a escassez crônica de alimentos e remédios, os manifestantes se reúnem nas principais avenidas para realizar protestos que vão de ocupações pacíficas ao lançamento de pedras contra tropas que disparam balas de borracha e gás lacrimogêneo.

Tudo isso gera um caos no trânsito que chega a travar o transporte público precisamente quando as escolas estão dispensando os estudantes.

Os manifestantes exigem que o governo socialista do presidente Nicolás Maduro resolva uma grave crise econômica e descarte o plano de reescrever a Constituição do país.

Os pais tentam explicar delicadamente aos filhos por que eles não estão na escola e ao mesmo tempo blindá-los da retórica política violenta, que se infiltra cada vez mais no vocabulário até das crianças do ensino primário.

Os professores remarcam aulas e provas constantemente para compensar os dias perdidos do ano letivo, que normalmente vai de outubro a julho. Já os pais temem que seus filhos fiquem para trás nos estudos se os tumultos continuarem.

Maduro diz que, em alguns casos, escolas particulares cancelaram aulas como uma maneira de apoiar a oposição. No mês passado, o Ministério da Educação, que não respondeu a um pedido de comentário, multou 15 delas por "permitirem, provocarem e incitarem ações violentas em instalações educativas e em suas áreas circundantes".