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Temer fará reforma ministerial em março de 2018, diz fonte do governo

27/10/2017 18h55

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer prepara uma reforma do seu ministério para março do próximo ano, aproveitando a necessidade que ministros que serão candidatos terão de deixar os cargos, para recompor a coalizão de apoio ao governo, disse à Reuters uma fonte palaciana.

As mudanças vão beneficiar partidos que planejem formar com o governo uma coalizão para enfrentar as eleições presidenciais de 2018, o que levará à redução do tamanho do PSDB no governo, hoje um dos principais partidos da base.

"O PSDB certamente não estará com o governo nas eleições de 2018", disse a fonte, lembrando que os tucanos planejam ter candidato próprio.

A cobrança por uma reforma começou logo depois da votação para arquivar a primeira denúncia contra o presidente, em agosto deste ano, e voltou com força depois do arquivamento da segunda denúncia. O presidente, no entanto, avalia que este não é o momento.

Uma mudança agora desagradaria um lado da base, mesmo beneficiando outros, e não resolveria o problema do governo, que teria de fazer nova mudança em abril, data limite para desincompatibilização de ministros que pretendem ser candidatos em 2018.

"A composição do governo tem um peso muito grande na eleição e é muito cedo para tratar disso. Uma mudança agora anteciparia o debate eleitoral sem necessidade", disse a fonte.

Um parlamentar com bom trânsito no Planalto já havia dito à Reuters que não haveria reforma ministerial agora. "Quem chegar não vai nem ter tempo de achar as gavetas", disse.

Ainda assim, não faltam partidos de olho no espaço ocupado pelo PSDB no governo. Com quatro ministérios --Secretaria de Governo, Cidades, Relações Exteriores e Direitos Humanos--, os tucanos têm o maior quinhão da Esplanada depois do PMDB, partido do presidente.

O partido votou dividido na primeira denúncia, com um voto a mais pelo arquivamento. Na segunda, o placar se inverteu: 23 tucanos votaram pelo prosseguimento e 21, contra. O Planalto reconhece que fica difícil justificar para outros partidos, mais fiéis, o tamanho dos tucanos no governo, e a cobrança tende a aumentar.

“Não vou negar que um partido que tem representação e tem uma postura de infidelidade, de falta de compromisso, cria um constrangimento e é muito ruim para a base aliada”, disse o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), ressalvando que seu partido não pede mais ministérios por estar "muito bem contemplado" no primeiro escalão.

Os cargos tucanos mais cobiçados são os do ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e do ministro das Cidades, Bruno Araújo. O primeiro, por ter a responsabilidade de negociar cargos e projetos com a base do governo. O segundo, porque estão nas Cidades programas como o Minha Casa, Minha Vida que, apesar de estarem em marcha lenta, ainda rendem bons dividendos políticos.

Direitos Humanos, nas mãos de Luislinda Valois, atrai pouco interesse, mas pode ser usado em uma negociação. Já o Itamaraty dificilmente seria colocado nas mãos de um político sem afinidade com o cargo e nem atrai interesse por não ter programas nem verbas. Aloysio Nunes, se decidir não se candidatar novamente a senador, como já teria considerado, pode ficar até o final do governo pela sua ótima relação com o presidente e com os diplomatas.

ELEIÇÕES

Partido do governo, o PMDB planeja usar a recomposição ministerial nas negociações para formar uma coalizão forte para 2018. Até agora, o partido --que deixou o governo Dilma, em 2015, com o discurso que teria candidato próprio-- não tem quem apresentar.

"O PMDB não tem candidato porque, nesse momento, não tem alguém com um perfil possível", disse a fonte palaciana.

Citados em diversas operações contra corrupção, nenhum dos nomes conhecidos do partido estariam em condições de ser candidato ao Palácio do Planalto.

Sem um candidato natural, o PMDB olha para os lados para tentar descobrir um nome a que possa se associar. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admite a fonte, é uma possibilidade, especialmente se a economia consolidar o crescimento.

"Não seria ruim para o governo ter pelo menos dois candidatos a quem se associar", disse a fonte. "Mas o cenário ainda é muito incerto. Só lá por março ou abril do ano que vem vai ser possível saber quem de fato vai vingar."

Com o cenário mais claro, a reforma ministerial irá refletir o caminho do PMDB para 2018.

(Reportagem adicional de Anthony Boadle)