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Leilão de linhas de energia atrai quase R$9 bi com venda de todos os lotes

15/12/2017 18h25

Por José Roberto Gomes

SÃO PAULO (Reuters) - O leilão de concessões para a construção e operação de linhas de transmissão de energia elétrica no Brasil atraiu nesta sexta-feira investimentos de quase 9 bilhões de reais, de empresas que arremataram todos os 11 empreendimentos ofertados, o que não acontecia em uma licitação do gênero no país desde 2014.

Ao todo, participaram 47 agentes, incluindo investidores estrangeiros como a indiana Sterlite Power Grid, que protagonizaram disputas acirradas e resultaram em deságio médio de 40,46 por cento em relação às receitas máximas dos projetos, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Engie Brasil Energia, da francesa Engie, que entrou no segmento de transmissão com o leilão, também se destacou na licitação, assim como a Neoenergia, que ganhou um projeto que exigirá aportes de 1,35 bilhão de reais.

Apesar dos grandes investimentos --em um leilão marcado pela ausência da gigante chinesa State Grid-- as companhias apresentaram lances com fortes deságios, o que também tende a reduzir os retornos aos investidores.

Ganha o leilão o investidor que aceitar receber a menor receita, o que implica em custos menores para os consumidores no futuro, quando as linhas forem entregues --a Aneel estimou uma economia de 15,578 bilhões de reais.

Algumas disputas precisaram ser decididas no chamado leilão viva-voz, acionado quando o deságio oferecido pelo primeiro colocado não supera em 5 por cento o do segundo ou de outros agentes.

"Dos 11 lotes, seis foram fechados no viva-voz", disse o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Fábio Alves, em entrevista a jornalista após o leilão.

Para especialistas, as boas condições de retorno e o baixo risco envolvido nos negócios de transmissão de eletricidade no Brasil têm atraído muitos investidores.

O apetite é explicado em parte por melhorias na remuneração e no desenho dos contratos oferecidos nos leilões promovidos pelo governo brasileiro para a concessão de novas linhas de transmissão --uma situação que difere de certames realizados há alguns anos; só a partir de 2016 eles voltaram a apresentar maior interesse.

VENCEDORES

De modo geral, houve uma pulverização entre os vencedores, mas a indiana Sterlite Power Grid e a Neoenergia foram as que se destacaram.

A Sterlite, que chegou ao Brasil neste ano, arrematou o terceiro lote do leilão com 35,72 por cento de deságio e receita anual ofertada de 313,1 milhões de reais para linhas de transmissão no Pará e Tocantins. Os investimentos previstos são de 2,78 bilhões de reais, os maiores do certame.

Com a vitória, a empresa reforça sua presença no Brasil após ter surpreendido o mercado ao estrear em um leilão de concessões para novas linhas de energia realizado pelo governo em abril, quando arrematou dois lotes.

Já a Neoenergia levou os lotes 4 e 6, com projetos nos estados de Bahia, Piauí, Tocantins, Ceará e Paraíba, que demandarão investimentos de quase 2 bilhões de reais. A companhia foi a vencedora em número de empreendimentos conquistados.

Paralelamente, o Consórcio Engie Brasil Transmissão venceu o primeiro lote com a oferta de 34,80 por cento de deságio. O investimento previsto, que prevê a construção de linhas no Paraná, é de 2 bilhões de reais, o segundo maior do leilão.

"Esse leilão marca a entrada da Engie Brasil Energia no setor de transmissão de energia no Brasil como uma nova linha de negócios, complementar a nosso portfólio atual de geração", afirmou o diretor-presidente da empresa, Eduardo Sattamini, em nota.

"Arrematamos lote localizado em Estado no qual já atuamos, o que deve gerar sinergias operacionais. Esse é mais um passo da companhia na busca de geração de valor aos nossos acionistas", complementou.

O lote 2, de linhas para o escoamento de energia do Piauí e Ceará, foi arrematado pela Celeo Redes Brasil, controlada pela espanhola Elecnor, com oferta de 53,21 por cento de deságio. O investimento previsto para o lote é de 1 bilhão de reais.

O deságio oferecido pela Celeo só foi superado pelo da Cesbe Participações, que levou o lote 5 com desconto de 53,94 por cento para projetos de 194 milhões de reais no Rio Grande do Norte.

Por fim, ficaram com apenas um empreendimento a Construtora Quebec (lote 7), o Consórcio Linha Verde (lote 8), a EEN Energia e Participações (lote 9), o Consórcio BR Energia/Enind Energia (lote 10) e Montago Construtora (lote 11).

Todos os 11 projetos somam 4,9 mil quilômetros de novas linhas a serem construídas e operadas pelos 10 grupos vencedores.

As instalações deverão entrar em operação comercial no prazo de 36 a 60 meses a partir da data de assinatura dos contratos de concessão, o que deve ocorrer em março de 2018.

(Por José Roberto Gomes)