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Taliban recebe com frieza convite do governo afegão para conversas de paz

01/03/2018 10h48

CABUL (Reuters) - O Taliban reagiu com frieza nesta quinta-feira a propostas para que inicie conversas de paz com o governo do Afeganistão, um dia depois de o presidente Ashraf Ghani oferecer um pacto para reconhecer os insurgentes como um partido legítimo em negociações.

O movimento ainda não deu nenhuma resposta formal ao convite de Ghani, feito em uma conferência com autoridades de países no chamado Processo de Cabul, que visa criar uma plataforma para conversas que ponham fim a mais de 16 anos de guerra.

Mas seu principal porta-voz respondeu a uma "Carta Aberta" publicada nesta semana na revista New Yorker por Barnett Rubin, comentarista respeitado de política afegã, que incentivou o Taliban a aceitar conversar com o governo de Cabul.

"Nosso país foi ocupado, o que levou à imposição de um suposto governo afegão de estilo norte-americano sobre nós", disse a resposta do Taliban.

"E sua ideia de conversarmos com eles e aceitarmos sua legitimidade é a mesma fórmula adotada pela América para vencer a guerra", disse, acrescentando que o Processo de Cabul almeja simplesmente a "rendição" do Taliban.

Os comentários vieram um mês depois de o grupo assumir a responsabilidade por um ataque no qual uma ambulância com explosivos foi detonada em Cabul, matando 100 pessoas no pior atentado visto em meses.

Como parte de sua nova estratégia regional anunciada no ano passado, os Estados Unidos intensificaram sua assistência aos militares afegãos e aumentaram muito os ataques aéreos contra o Taliban, na tentativa de romper o impasse e obrigar os insurgentes a negociar.

Mas combatentes da facção controlam grandes partes do país, o próprio governo está profundamente dividido e milhares de soldados e civis afegãos estão morrendo todos os anos.

O próprio Taliban se ofereceu para conversar com os EUA duas vezes nas últimas semanas, mas descartou conversas com Cabul, uma discórdia que precisa ser resolvida antes do início de qualquer conversa.

Embora a comunidade internacional veja a gestão Ghani como o único governo legítimo do país, o Taliban o vê como um regime artificial e imposto por estrangeiros, que não representa o povo afegão.

O comunicado do Taliban disse que o movimento está "comprometido sinceramente" a abordar os temores internacionais de o Afeganistão ser usado como uma base para ataques terroristas e que não deseja conflitos com os EUA ou outras potências.

"O xis da questão é: qual é a preocupação vital da América, é mesmo o terrorismo?", indagou.

(Por James Mackenzie)