Nicarágua cancela reforma da Previdência para tentar encerrar protestos
Por Oswaldo Rivas
MANÁGUA (Reuters) - O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, disse no domingo que um plano de reforma da Previdência que provocou dias de protestos fatais foi cancelado, na tentativa de acabar com a maior crise de seu governo.
Ortega está na defensiva desde que as manifestações tiveram início na maior parte do país na quarta-feira em repúdio ao plano de aumentar as contribuições dos trabalhadores para o sistema previdenciário e reduzir as pensões.
Os tumultos que se seguiram deixaram ao menos oito mortos e desencadearam saques e corridas às compras, mas os protestos diminuíram consideravelmente em Manágua após o anúncio de Ortega, segundo testemunhas da Reuters. Ao menos uma marcha estava planejada para esta segunda-feira.
O papa, o governo dos Estados Unidos e líderes empresariais pediram ao líder nicaraguense que detenha a violência antes de fazer um pronunciamento na televisão e dizer que as medidas aprovadas na semana passada foram retiradas.
"A resolução anterior de 16 de abril de 2018, que foi a resolução que provocou toda esta situação, está sendo revogada, cancelada, posta de lado", afirmou Ortega.
O governo argumentou que as mudanças previdenciárias são necessárias para reforçar as finanças da nação, e Ortega disse que haverá conversas para elaborar um novo plano para fortalecer o sistema de segurança social.
Mas o governo foi abalado pelos protestos, que um grupo de direitos humanos disse ter cobrado ao menos 25 vidas. Lojas de Manágua foram saqueadas durante o final de semana, disseram testemunhas da Reuters.
Na noite de sábado, a mídia local noticiou que um repórter foi morto a tiros durante uma transmissão ao vivo de Bluefields, cidade do litoral caribenho atingida por tumultos. Imagens explícitas do incidente logo se espalharam pela mídia local e pelas redes sociais.
A repressão policial aos manifestantes e as restrições à imprensa vistas nos últimos dias incitaram ainda mais críticas a Ortega, que intensificou seu controle sobre as instituições desde que voltou ao poder pela segunda vez 11 anos atrás.
No domingo o Departamento de Estado dos EUA pediu um "diálogo de base abrangente" para encerrar a disputa e "restaurar o respeito" pelos direitos humanos, pedindo ao governo que deixe a mídia operar livremente.
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