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ENFOQUE-Tucanos cobram agenda de candidato para Alckmin se viabilizar como nome do centro à Presidência

25/04/2018 20h00

Por Ricardo Brito e Eduardo Simões

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - Tucanos cobram uma agenda de candidato do ex-governador de São Paulo e presidente do PSDB, Geraldo Alckmin, para que ele se viabilize como o nome do centro na disputa pelo Palácio do Planalto, afirmaram à Reuters aliados do pré-candidato.

Desde que deixou o comando do governo paulista por exigência da legislação eleitoral, em 7 de abril, Alckmin ainda não definiu com aliados uma agenda de pré-campanha até o registro da candidatura, que ocorrerá apenas entre julho e agosto.

Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 15 de abril, o tucano ainda não decolou. Ele tem 6 por cento de intenção de voto na sondagem com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato e chega a 8 por cento, sem o petista.

Por outro lado, os demais candidatos do chamado centro, como o presidente Michel Temer, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), alcançam no máximo 2 por cento nos cenários testados.

A título de comparação, há quatro anos, em sondagem do mesmo instituto, o tucano Aécio Neves tinha 18 por cento de intenção de voto.

Tucanos afirmam que, até o momento, Alckmin não fez campanha e tampouco usou o cargo de governador para se promover. Apontam, no entanto, que chegou a hora de se movimentar.

O presidente do PSDB em Minas Gerais, deputado federal Domingos Sávio, disse que iria cobrar uma agenda, na reunião da bancada federal com o ex-governador.

"Agora é hora de colocar o bloco na rua literalmente, com eventos e atos públicos", disse Sávio.

Um dos parlamentares federais mais próximos de Alckmin, o deputado Miguel Haddad (PSDB-SP) afirmou que em alguns dias deve ser fechada uma agenda de pré-campanha, após ouvir dirigentes estaduais e governadores.

Os tucanos têm ainda adotado o discurso de que o desempenho de Alckmin nas pesquisas não é fator de preocupação, calcado na avaliação, já feita pelo próprio pré-candidato, de que a população ainda não voltou sua atenção para o pleito de outubro.

"Temos viagens programadas pelo interior, onde se fala com a mídia regional, se faz reuniões, debates, visita a representação da sociedade civil. É um momento intermediário. Na verdade, a mobilização da opinião pública só vai ocorrer a partir das convenções em julho", disse o secretário-geral do PSDB, deputado federal Marcus Pestana (MG).

Ele aponta ainda que o partido tem articulado para ter palanques estaduais fortes. Em alguns casos, como São Paulo e Minas, disse ele, a situação está mais madura. Em outros, como Bahia e Rio de Janeiro, nem tanto.

Além dos esforços de articulação, analistas apontam que os recentes problemas de lideranças tucanas na Justiça --como os ex-presidentes do partido Aécio Neves e Eduardo Azeredo-- podem ser um obstáculo para Alckmin. Aliados do tucano, no entanto, procurarm minimizar esse tema. [nL1N1S21ZJ]

CONVERGÊNCIA

Ainda não há, porém, uma definição sobre se a melhor estratégia para Alckmin é que haja uma convergência do chamado centro já no primeiro turno ou se o melhor é deixar que uma eventual união ocorra apenas no segundo.

"Seria muito mais estratégico que buscássemos uma convergência de pensamento do que ir tentar trazer essas candidaturas de imediato", disse Sávio.

Pestana, por sua vez, vê riscos de que uma pulverização no centro acabe deixando esse campo político sem representantes no segundo turno da eleição.

"Eu acho que o centro democrático e reformista, os agentes desse polo político, não vão querer ser responsáveis por um resultado muito ruim que é levar para o segundo turno candidatos que não refletem as necessidades do país", disse o secretário-geral tucano.

Segundo Pestana, não está descartada uma nova união entre PSDB e DEM. Questionado se Alckmin é o nome natural dessa convergência de candidatos de centro, o secretário-geral foi cauteloso e disse que isso seria um "exercício de arrogância".

"Eu acho que ele (Alckmin) é hoje quem melhor aparece nas pesquisas e tem uma retaguarda mais sólida. Mas nós temos que discutir isso abertamente com os aliados", destacou.

Também não há nenhum acerto, por ora, de quais partidos devem fechar aliança formal com o tucano. Os mais próximos são o PTB, cujo presidente da legenda, Roberto Jefferson, é um dos principais entusiastas da campanha de Alckmin, e o PSD, partido do ministro Gilberto Kassab.

Na avaliação do analista Danilo Gennari, sócio da Distrito Relações Governamentais, o esforço de Alckmin deve ser para crescer ao menos um pouco nas pesquisas até a definição formal das candidaturas, e ao mesmo tempo torcer para que os demais candidatos de centro permaneçam onde estão.

"A situação não é nada confortável, fato, mas existe uma chance ainda para o Alckmin que é a seguinte: nos próximos dois, três meses você ter um arranjo de centro que naturalmente vai ter que ir para o candidato melhor posicionado. Esse candidato ainda é o Alckmin", disse.

"Você vai ter um cenário muito fragmentado em que qualquer 20 por cento pode te levar para o segundo turno. Um pulo do Alckmin de 10 para 20, com toda uma máquina por trás, não é algo impossível de acontecer."

Em entrevista coletiva na quarta-feira, após reunião com as bancadas do PSDB da Câmara e do Senado em Brasília, Alckmin disse não ter dúvidas de que vai crescer na preferência do eleitorado.

“Pesquisa ela é correta do ponto de vista estatístico, não tem o que discutir, mas na realidade a campanha não começou, então ela não tem valor político”, disse o pré-candidato.

“Eu não tenho dúvida de que nós vamos crescer. Nós vamos ter os melhores palanques do Brasil desde o Sul até o Norte, ou do PSDB ou de aliados, e vamos ter uma boa aliança. Tenho segurança quanto a isso.”