Topo

Blecautes e calor forçam moradores de Gaza a frequentar praias poluídas

16/07/2018 09h49

Maher Taha, sua mulher e seus seis filhos estão sentados aproveitando a brisa em uma praia de Gaza, e fazendo o máximo para ignorar o lixo e o esgoto que flutuam no mar a alguns metros de distância.

A água está poluída e o odor é desagradável, mas eles precisam de um alívio do calor sufocante dentro de casa -- e existem poucas opções para uma família com orçamento apertado e com um fornecimento de energia que só dura quatro horas por dia.

"Podemos ver o esgoto claramente, e continuamos vindo aqui -- é de graça", diz Taha, de 46 anos. "A vida é deprimente e difícil, e as pessoas não têm nenhuma fuga além do mar".

Alertas instruem as pessoas a evitarem a água na praia próxima do campo de refugiados de Nusseirat, no centro da Faixa de Gaza. Salva-vidas procuram as pessoas e as avisam dos perigos.

"Aconselhamos as pessoas a não entrarem no mar e a ficarem na praia, mas elas não ouvem. Nós lhes dizemos que a água do mar está quase toda poluída e elas não ouvem", disse o salva-vidas Khader Abu Jreban.

Os blecautes no território de dois milhões de habitantes prejudicam seriamente as operações nas estações de tratamento de esgoto, o que leva à liberação de detritos no mar.

Gaza, cujo principal fornecedor de energia é Israel, vem sofrendo com problemas de eletricidade na última década.

Alguns moradores atribuem os blecautes à rivalidade política entre o Hamas, o grupo islâmico que controla Gaza, e a Autoridade Palestina, sediada na Cisjordânia ocupada. Outros apontam o dedo para Israel, que assim como o Egito impõe restrições severas na fronteira.

Cifras da Organização das Nações Unidas (ONU) revelaram que 108 milhões de litros de esgoto foram lançados no mar todos os dias em maio. Os níveis de poluição estão quatro vezes acima do padrão internacional, de acordo com os dados.

Algumas famílias mais ricas de Gaza reagiram à poluição construindo piscinas e alugando-as por valores que variam entre 300 e 700 shekels (85 e 200 dólares) por dia.

Um parque aquático de Gaza, que conta com várias piscinas e até ondas artificiais, oferece outra alternativa limpa, mas apenas para quem puder pagar a entrada de 10 shekels (2,75 dólares).