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"A pior parte é apenas esperar": a ansiosa busca pelos desaparecidos em incêndio na Califórnia

Alex Dobuzinskis e Dan Whitcomb

Reuters

16/11/2018 20h42

Rose Farrel era uma mulher independente de 99 anos, determinada a viver sozinha em Paradise, Califórnia. Uma enfermeira a visitava todos os dias e ela usava um andador, mas ainda tinha seu carro na garagem.

Desde que o incêndio Camp avançou rapidamente sobre Paradise, que fica 500 metros acima de um desfiladeiro, cortado pelo rio Feather, a família Farrell não consegue entrar em contato com ela. 

"A pior parte é apenas esperar para saber o que aconteceu", disse Tom Perez, 58, o marido da neta de Farrell.

O incêndio mais mortal da Califórnia invadiu a cidade com 27 mil pessoas semana passada, atravessando 11 quilômetros em 90 minutos e dando pouco tempo para os moradores fugirem.

Alguns morreram em seus carros, em uma retirada caótica, enquanto engarrafamentos fechavam as duas saídas da cidade. Farrell é uma das 630 pessoas listadas como desaparecidas. O total de mortes subiu para 66.

O número de pessoas desaparecidas flutuou demais e autoridades avisaram que ele provavelmente mudará.

O escritório do xerife do condado de Butte inicialmente colocou o número de desaparecidos em 228, muitos dos quais foram encontrados. Mas à medida que chegam relatos de parentes, a lista cresceu de 103 para 130 no fim da quarta-feira (14), pulou para 297 na manhã de quinta (15) e explodiu para 630 na noite de quinta. 

Em alguns casos, as pessoas podem ter sobrevivido, mas ainda não notificaram as autoridades, ou os parentes podem ainda não ter notificado pessoas desaparecidas. A fraca cobertura de celular depois do incêndio exacerbou o problema, em uma região montanhosa onde algumas áreas têm pouca ou nenhuma recepção de telefone, mesmo antes do incêndio.

"Ainda temos relatos chegando de pessoas desaparecidas e de pessoas sendo encontradas", disse Miranda Bowersox, uma porta-voz do escritório do xerife. "O número total de pessoas diminuirá, mas, em curto prazo, esperamos receber novos relatos de pessoas desaparecidas". 

Paradise era a casa de muitos aposentados, como Donna Duncan-Austin, 90, que usava um andador para se movimentar. Seu marido, Angello Austin, 87, era mais fisicamente ativo e trabalhava como padeiro e quebra-galhos, disse a sobrinha de Donna, Andrea Evans, à Reuters, pelo telefone. 

"Eles eram muito, muito apaixonados", disse Evans.

Donna era muito envolvida com sua igreja, mas ninguém ouviu notícias sobre seu paradeiro, segundo Evans. "É por isso que eu estou me preparando", disse ela.

Procurando em vão

Pelo menos 90% das pessoas na lista de desaparecidos fornecida pelo escritório do xerife do condado de Butte, na quarta-feira, tinham mais de 60 anos. Parentes disseram que alguns tinham mobilidade limitada.

Bill Mount, 62, é um deles. Sua sobrinha Jaime Daugherty disse que seu irmão bateu na porta de Mount, pouco depois das 6h da manhã, no dia do incêndio, e não houve resposta. 

A casa de Mount foi queimada até o chão. Uma das aproximadamente 12 equipes de legistas enviados para a calamidade, junto com cães de cadáveres, vasculharia o local na quinta-feira, disse ela. 

"Eu liguei para todos os hospitais, todos os abrigos", disse Daugherty, e ouviu que não havia ninguém com esse nome.

Equipes forenses estão pedindo DNA para os parentes, tentando identificar as vítimas.