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Imigrantes em Tijuana se sentem esmagados pelos dois lados da fronteira com os EUA

16/11/2018 18h53

Por Lizbeth Diaz

TIJUANA, México (Reuters) - Imigrantes da América Central na fronteira do norte do México estão sob pressão dos dois lados porque a administração Trump bloqueia pedidos de asilo a qualquer um querendo entrar nos Estados Unidos ilegalmente, e políticos locais questionam se eles deveriam estar no México. 

O presidente norte-americano Donald Trump enviou quase 6.000 tropas para fortalecer a fronteira com o México e ameaçou fechá-la completamente para manter os imigrantes do outro lado. 

Além disso, uma ordem emitida por Trump significa que imigrantes precisam se apresentar em postos de entrada dos EUA, como na cidade mexicana de Tijuana, para ter qualquer chance de adquirir status de refugiado. A ordem entrou em vigor no sábado. 

Autoridades municipais dizem que por volta de 2.000 imigrantes estão agora em Tijuana, onde alguns residentes não estão felizes com a chegada dos centro-americanos, muitos dos quais saíram de Honduras, um mês atrás, para escapar da violência e da pobreza. 

Mais devem chegar durante o fim de semana. 

O prefeito de Tijuana, Juan Manuel Gastelum, criticou as chegadas recentes, descrevendo alguns como “vagabundos”. Ele disse que uma consulta seria feita para descobrir se a cidade, que fica a 27 quilômetros de San Diego, na Califórnia, deveria continuar recebendo imigrantes. 

Em uma entrevista para a emissora de televisão Milenio, Gastelum reclamou que os imigrantes têm sido hostis com autoridades locais e que o governo federal não conseguiu controlar a fronteira do sul, quando a caravana de pessoas começou a entrar no México, em 19 de outubro. 

“Tijuana está agora em um dilema”, disse, no fim da quinta-feira, mencionado que consideraria bloquear estradas para impedir que mais imigrantes cheguem a cidade. “Não é justo”. 

Com muitos parentes vivendo nos Estados Unidos, os mexicanos tradicionalmente apoiam os imigrantes. No entanto, uma pesquisa recente da empresa Consulta Mitofsky mostrou que pouco mais de um terço dos mexicanos gostaria que os imigrantes fossem enviados para casa. 

Alguns centro-americanos que se agruparam nas ruas da cidade e em abrigos para refugiados não têm certeza do que o futuro os reserva. 

Exaustos, esticado no chão do abrigo de imigrantes, o hondurenho Alejandro Martínez disse que não tinha um plano alternativo, caso fosse recusado pelos Estados Unidos. 

“Eu não pensei sobre o que farei se eles não me deixarem entrar. Tenho fé em Deus que tudo ficará bem”, disse Martínez, de 24 anos. 

Muitos imigrantes que conversaram com a Reuters nos abrigos não estavam cientes das tentativas do governo dos EUA de impedi-los e disseram que estavam determinados a seguir em frente de qualquer maneira. 

Outros estão optando por ficar no México, que está processando 2.600 pedidos de asilo de imigrantes da caravana, disse o governo, na quinta-feira. 

Permanecer no México poderia ser uma opção se os Estados Unidos o rejeitassem, disse Erick Cortes, um operário da construção civil, que afirmou estar fugindo de ameaças de gangues em Honduras. 

“Pode ser o México, pode ser outro país. Mas voltar para Honduras? Nunca”, disse. “Eu quero trabalhar para que a minha família possa deixar o inferno em que estão.”