Topo

Operação Lava Jato

EUA investigam esquema de propina em negociação de petróleo no Brasil

Agência Brasil
Imagem: Agência Brasil

Gary McWilliams*

Em Houston (Texas)

08/02/2019 09h05

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos está investigando um ex-negociador de petróleo da Petrobras baseado no país, já acusado no Brasil, quanto à participação em um esquema de corrupção envolvendo as tradings de commodities Vitol, Glencore e Trafigura, segundo pessoas familiarizadas ao assunto.

Essa foi a primeira confirmação de que investigadores norte-americanos se juntaram à nova fase da operação Lava Jato, que colocou mais de 130 políticos e empresários na prisão em toda a América Latina.

A Procuradoria dos EUA no Distrito Leste de Nova York tem conversado com Rodrigo Garcia Berkowitz, negociador de petróleo baseado em Houston já investigado no Brasil por aceitar milhões de dólares em propinas para ele próprio e para outros, segundo uma das pessoas com conhecimento do caso.

Berkowitz, de 39 anos, está cooperando com as autoridades norte-americanas na investigação e pode enfrentar acusações nos EUA, disse uma das pessoas, apesar de no momento ainda não ter sido acusado.

Berkowitz não foi encontrado para comentar o assunto, e não é conhecido de imediato qual escritório de advocacia o representa.

Promotores brasileiros declararam que executivos das empresas de commodities, incluindo alguns nos EUA, estavam envolvidos em pagamentos indevidos a executivos da Petrobras, e que Berkowitz e outros trabalhavam diretamente com essas empresas.

Vitol, Glencore, Trafigura e outras pagaram conjuntamente, em um período de seis anos, ao menos 31 milhões de dólares em propinas para integrantes da Petrobras para assegurar vantagens em negócios, disseram procuradores brasileiros.

O caso de Nova York sinaliza que os procuradores dos EUA estão examinando os braços norte-americanos da Vitol e de outros implicados pelas autoridades brasileiras, já que alguns desses fundos foram movimentados através de sistemas bancários norte-americanos e europeus.

As propinas pagas à Petrobras passaram por contas nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Suécia, Suíça e Uruguai, de acordo com autoridades brasileiras, abrindo espaço para procuradores dos EUA investigarem violações na legislação norte-americana.

Em dezembro, Mike Loya, chefe das operações da Vitol nos EUA, baseadas em Houston, foi citado em documentos brasileiros que acusavam Berkowitz e outros de terem total conhecimento do esquema de negociação. Loya não foi acusado. Ele não respondeu aos pedidos de comentários.

Nesta quinta-feira, promotores federais do Brasil se recusaram a dizer se estavam colaborando com o Departamento de Justiça dos EUA no caso.

Vitol, Trafigura e Glencore se recusaram a comentar as investigações norte-americanas.

Vitol e Glencore reiteraram declarações anteriores de que estão cooperando com autoridades brasileiras, e a Trafigura afirmou que leva as alegações a sério. Todos foram suspensos de negociações com a Petrobras.

O Brasil emitiu no início de dezembro um alerta vermelho da Interpol chamando Berkowitz de fugitivo de acusações e requerendo sua prisão. O escritório policial de Houston afirmou neste mês não ter recebido solicitação de prisão para Berkowitz.

Autoridades norte-americanas prenderam há dois meses Luiz Eduardo Loureiro Andrade, empresário brasileiro, sob alegações de que ele intermediou propinas da Vitol e de outros para membros da Petrobras, segundo documentos judiciais brasileiros.

Andrade, Berkowitz e outros nove foram acusados no Brasil em dezembro com alegações de que intermediaram negócios da Vitol e de outras firmas de comércio entre 2011 e 2014. Andrade não foi localizado para comentários.

*Colaboraram Brad Brooks, em São Paulo, e Julia Payne, em Londres

Operação Lava Jato