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Ascensão do populismo erode direitos das mulheres, alertam líderes

04/03/2019 14h02

Por Lin Taylor

LONDRES (Thomson Reuters Foundation) - Do acesso ao aborto às oportunidades de emprego iguais, os direitos das mulheres estão sendo corroídos por uma ascensão do populismo global, alertou um grupo de líderes femininas nesta segunda-feira.

Houve um ressurgimento do sentimento nacionalista e populista em muitos países do mundo, do Brasil à Turquia, Filipinas, Rússia e Estados Unidos.

Isso provocou uma revogação deliberada de direitos conquistados através dos "sacrifícios e batalhas" de gerações de mulheres, disse o recém-fundado Grupo de Mulheres Líderes pela Mudança e Inclusão em uma carta aberta pouco antes do Dia Internacional da Mulher.       

"Cada vez mais regimes nacionalistas e populistas estão começando a insinuar que o empoderamento feminino é um desafio ao poder", disse a ex-ministra das Relações Exteriores argentina Susana Malcorra, uma das fundadoras do grupo.

"Há diversos lugares onde vemos isto acontecendo como uma tendência. E, em nossa opinião, se não falarmos em alto e bom som sobre isto, será difícil revertê-lo", disse ela à Thomson Reuters Foundation em uma entrevista por telefone de Madri.

Em 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs uma lei da mordaça que proibiu que grupos de todo o mundo que recebem financiamento norte-americano debatam o aborto, obrigando-os a aceitar a restrição ou rejeitá-la e perder a verba.

A lei da mordaça forçou o fechamento de clínicas de saúde e programas comunitários de instituições de caridade que temem que o descumprimento as impeça de receber ajuda do sistema de saúde dos EUA, que totaliza cerca de 8 bilhões de dólares por ano.

Isto acontece em um momento no qual o direito ao aborto está sendo questionado em outros países de todo o globo.

No ano passado, a Irlanda anulou sua rígida lei antiaborto, mas o governo conservador da Polônia pressionou pelo endurecimento de suas leis antiaborto já severas.

A Argentina rejeitou uma medida de legalização do aborto, e se acredita que a eleição de Jair Bolsonaro freará os esforços para legalizar a prática no Brasil.

O Fórum Econômico Mundial disse em um relatório global de 2018 que havia menos mulheres do que homens trabalhando no ano passado, sobretudo porque a falta de creches as impede de ocupar empregou ou de assumir cargos de comando, e que serão necessários 202 anos para as mulheres ganharem o mesmo que os homens e terem as mesmas oportunidades de emprego.