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Guaidó convoca grande protesto em Caracas; apagão continua na

09/03/2019 20h50

Por Mayela Armas e Deisy Buitrago

CARACAS (Reuters) - O líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, convocou no sábado os cidadãos de todo o país para se dirigirem à capital Caracas para um protesto contra o presidente socialista Nicolás Maduro, ao mesmo tempo em que o pior blecaute venezuelano em décadas se arrastava pelo terceiro dia.

Dirigindo-se a simpatizantes enquanto estava no topo de uma ponte em Caracas, Guaidó --o líder do Congresso controlado pela oposição que invocou a Constituição para se autoproclamar presidente interino em janeiro-- disse que o governo de Maduro "não tem como resolver a crise de eletricidade que eles mesmos criaram".

"Toda a Venezuela, para Caracas!", bradou Guaidó de uma ponte no sudoeste de Caracas, sem dizer quando o protesto planejado seria realizado. "Os dias à frente serão difíceis, graças ao regime."

Ativistas entraram em confronto com policiais antes da manifestação, que visava pressionar Maduro em meio ao apagão. O Partido Socialista definiu o blecaute como um ato de sabotagem patrocinado pelos Estados Unidos, mas os críticos da oposição culparam o apagão como resultado de duas décadas de má administração e corrupção.

Dezenas de manifestantes tentaram caminhar por uma avenida em Caracas, mas foram levados para a calçada pela tropa de choque da polícia, levando-os a gritar com os policiais e empurrá-los. Uma mulher foi atingida por com spray de pimenta, de acordo com uma emissora local.

A energia oscilou em Caracas no sábado de manhã, incluindo o palácio presidencial de Miraflores, segundo testemunhas da Reuters. O vice-presidente do Partido Socialista, Diosdado Cabello, disse na televisão estatal que seis dos 23 Estados do país ainda não tinham energia até a tarde de sábado.

"Estamos todos chateados porque não temos energia, serviço telefônico, água e eles querem nos bloquear", disse Rossmary Nascimento, uma nutricionista de 45 anos em Caracas. "Eu quero um país normal."

Em uma passeata concorrente organizada pelo Partido Socialista para protestar contra o que é chamado de imperialismo dos EUA, Maduro disse que o apagão era resultado de "ataques eletromagnéticos contra as linhas de transmissão para gerar interrupção dos processos de transmissão e sabotar o processo de reconexão nacional".

"A direita cravou uma punhalada, junto com o imperialismo, no sistema elétrico e nós estamos tentando curá-lo o quanto antes", afirmou.

Várias centenas de pessoas reuniram-se no comício no centro de Caracas para uma passeata para denunciar as sanções dos Estados Unidos, que visam cortar as fontes de financiamento do governo de Maduro.

"Estamos aqui, estamos mobilizados, porque não vamos deixar os gringos assumirem", disse Elbadina Gomez, 76 anos, que trabalha para um grupo ativista ligado ao Partido Socialista.

CONSEQUÊNCIAS

Julio Castro, um médico que dirige uma organização não-governamental chamada Médicos pela Saúde, tuitou que um total de 13 pessoas morreram em meio ao blecaute, incluindo nove mortes em salas de emergência.

A Reuters não conseguiu confirmar de forma independente as mortes ou se elas poderiam ter resultado do apagão. O Ministério da Informação não respondeu a um pedido de comentários.

As clínicas do sufocante Estado de Zulia, no oeste do país, que sofrem de apagões regionais crônicos, reduziram as operações após quase 72 horas sem energia.

"Não estamos oferecendo serviços e não temos nenhum paciente internado aqui porque o gerador não está funcionando", disse Chiquinquira Caldera, chefe de administração da clínica San Lucas, na cidade de Maracaibo.

Já sofrendo com a hiperinflação e escassez de produtos básicos, a Venezuela viu a crise política se aprofundar quando Guaidó se autoproclamou presidente interino em janeiro, chamando Maduro de usurpador após a eleição de 2018, que Maduro venceu, mas foi amplamente considerada fraudulenta.

Maduro diz que Guaidó é um fantoche de Washington e rejeita sua reivindicação à Presidência como um esforço da administração do presidente dos EUA, Donald Trump, para controlar a riqueza do petróleo da Venezuela.

O ex-prefeito e ativista exilado da oposição, Antonio Ledezma, pediu no sábado a Guaidó que busque a intervenção das Organização das Nações Unidas na Venezuela, invocando um princípio conhecido como "responsabilidade de proteger".

A doutrina da ONU, às vezes referida como R2P, foi criada para evitar assassinatos em massa, como os de Ruanda e Bósnia, e coloca o ônus da comunidade internacional de proteger populações de crimes contra a humanidade e limpeza étnica.

Na manifestação da oposição, Guaidó disse que não invocaria um artigo da Constituição venezuelana que permite ao Congresso autorizar operações militares estrangeiras dentro da Venezuela "até que tenhamos de fazê-lo".

"Artigo 187 quando chegar a hora", disse Guaidó. "Precisamos estar nas ruas, mobilizados. Depende de nós, de mais ninguém."

Trump tem dito que uma "opção militar" está na mesa em relação à Venezuela, mas os vizinhos latino- americanos se opuseram enfaticamente a uma intervenção dos EUA como forma de resolver a situação.

(Reportagem de Vivian Sequera, Mayela Armas, Deisy Buitrago e Shailym Castro, em Caracas; Tibisay Romero, em Valencia; Anggy Polanco, em San Crisóbal; e José Bula Urrutia, em Maracaibo)