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Venezuela entra no quarto dia de blecaute com Maduro culpando os EUA por falta de energia

10/03/2019 13h48

Por Vivian Sequera e Mayela Armas

CARACAS (Reuters) - Os venezuelanos acordaram neste domingo em meio a um blecaute nacional sem precedentes, que já dura quatro dias, deixando os moradores preocupados com os impactos da falta de eletricidade nos sistemas de saúde, comunicações e transporte do país.

O presidente socialista, Nicolás Maduro - que está enfrentando um desafio ao seu mandato pelo líder do congresso oposicionista, Juan Guaidó - disse que o blecaute é culpa de um ato de “sabotagem” dos Estados Unidos na represa hidrelétrica de Guri, mas especialistas dizem que é resultado de anos de investimentos insuficientes.

"O sistema elétrico nacional tem sido objeto de múltiplos cyberataques", escreveu Maduro no Twitter neste domingo. "No entando, nós estamos fazendo grandes esforços para restaurar o fornecimento (de forma) estável e definitiva nas próximas horas."

Guaidó evocou a constituição para assumir a presidência interina em janeiro, argumentando que a reeleição de Maduro em 2018 foi fraudulenta. Ele foi reconhecido como líder legítimo da Venezuela pelos EUA e a maioria dos países ocidentais.

Apesar da pressão de frequentes protestos da oposição e de sanções norte-americanas ao setor petroleiro, essencial para o país, Maduro não está aberto a negociações para acabar com o impasse político e parece disposto a se manter onde está, disse Elliott Abrams, enviado do governo Trump para a Venezuela.

O blecaute, que começou na tarde de quinta-feira, aumentou a frustração entre os venezuelanos, que já estão sofrendo com ampla escassez de comida e medicamentos.

O país da Opep, que já foi próspero, está sofrendo em meio à um colapso de hiperinflação. Alimentos apodreceram nas geladeiras, pessoas andaram quilômetros para chegar ao trabalho com o metrô de Caracas parado e familiares no exterior aguardavam ansiosos por notícias de parentes, com os sinais de telefone e internet intermitentes.

“O que você pode fazer sem eletricidade?”, questionava Leonel Gutierrez, um técnico de sistemas de 47 anos, enquanto carregava sua filha de seis meses para comprar mantimentos. "A comida que tínhamos estragou."

Filas se formaram do lado de fora dos poucos postos de gasolina de Caracas com bombas abertas, enquanto muitos motoristas pararam ao longo dos acostamentos das rodovias para usar seus telefones celulares nas poucas áreas da cidade com sinal.

Algumas padarias, supermercados e restaurantes estavam abertos e funcionando com geradores de reserva, segundo testemunhas da Reuters. Muitos pediram aos clientes que pagassem em notas de dólares norte-americanos, uma vez que os sistemas de pagamento por cartão de débito não funcionavam de forma confiável e os bolívares locais estão escassos há anos.

"Os clientes estão comprando bebidas, baterias e biscoitos, mas estamos sem água", disse Belgica Zepeda, uma vendedora de uma farmácia de Caracas.

Nos hospitais, a falta de luz, combinada com a ausência ou performance ruim de geradores reserva resultou na morte de 17 pacientes pelo país, segundo a organização não governamental Doctors for Health no sábado. A Reuters não pode verificar o número e o Ministério da Informação não respondeu a pedidos de comentário.

A energia voltou brevemente a partes de Caracas e outras cidades na sexta-feira mas acabou de novo perto do meio-dia no sábado.

O blecaute é, de longe, o pior em décadas. Em 2013, Caracas e 17 dos 23 Estados do país foram atingidos por um blecaute que durou seis horas, enquanto em 2018 oito Estados sofreram um queda de luz que durou 10 horas, disseram autoridades do governo na época.

(Reportagem adicional por Shaylim Valderrama)