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Dezenas são mortos em ataques contra mesquitas na Nova Zelândia

15/03/2019 20h05

Por Praveen Menon e Charlotte Greenfield

WELLINGTON/CHRISTCHURCH (Reuters) - Um atirador deixou 49 mortos e mais de 40 feridos em duas mesquitas na Nova Zelândia nesta sexta-feira, alguns deles enquanto estavam ajoelhados orando, e transmitiu alguns dos assassinatos ao vivo, no que a primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, descreveu como um ataque aos valores do país.

O atirador transmitiu no Facebook imagens ao vivo do ataque a uma mesquita na cidade de Christchurch, refletindo carnificinas que acontecem em videogames, depois de publicar um "manifesto" no qual criticava imigrantes, chamando-os de "invasores".

O vídeo dos assassinatos circulou amplamente nas redes sociais, aparentemente feito pelo atirador e transmitido ao vivo online enquanto o ataque acontecia, mostrando o caminho até uma das mesquitas, a chegada e os tiros que atingiram pessoas aleatoriamente.

O vídeo mostrou fiéis, possivelmente mortos ou feridos, amontoados no chão. A Reuters não pôde confirmar a autenticidade das imagens.

Esse foi o pior ataque a tiros da história da Nova Zelândia e o país elevou sua ameaça de segurança ao maior nível, disse Ardern, acrescentando, “isso agora só pode ser descrito como um ataque terrorista”.

A polícia disse que três pessoas estão sob custódia, incluindo um homem com 20 e tantos anos que foi acusado de homicídio. Ele comparecerá a um tribunal no sábado. A polícia não identificou nenhum outro suspeito.

“Nós não fomos escolhidos para esse ato de violência porque nós toleramos o racismo, porque nós somos um enclave de extremismo”, disse Ardern em um pronunciamento à nação.

“Nós fomos escolhidos pelo fato de que não somos nenhuma dessas coisas. Foi porque nós representamos diversidade, bondade, compaixão, uma casa para aqueles que compartilham nossos valores”, acrescentou. “Vocês nos escolheram, mas nós rejeitamos e condenamos vocês totalmente.”

O comissário de polícia Mike Bush disse que 49 pessoas foram mortas. Autoridades de saúde disseram que 48 pessoas estavam sendo tratadas devido a ferimentos por balas, incluindo crianças pequenas.

Líderes de todo o mundo expressaram repúdio e tristeza pelos os ataques, com alguns lamentando a demonização dos muçulmanos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou o “horrível massacre”, que a Casa Branca descreveu como um “cruel ato de ódio”.

O manifesto publicado pelo atirador elogiava Trump como "um símbolo de identidade branca renovada e propósito comum". A Casa Branca não respondeu imediatamente a pedido de comentário sobre o manifesto.

“ATIRAR EM TODOS NA MESQUITA”

Um homem que disse estar na mesquita Al Noor afirmou à mídia que o atirador era branco, loiro e usava um capacete e um colete à prova de balas. O homem invadiu a mesquita enquanto os fiéis estavam ajoelhados para orar.

"Ele tinha uma arma grande... ele chegou e começou a atirar em todos na mesquita, em todos os lugares", disse um dos fiéis, Ahmad Al-Mahmoud, que, junto a outras pessoas, escapou por uma porta de vidro.

Quarenta e uma pessoas foram mortas na mesquita Al Noor, sete na mesquita do bairro de Linwood e uma morreu no hospital, disse a polícia. Hospitais disseram que crianças estão entre as vítimas.

A seleção de críquete de Bangladesh estava chegando para orações em uma das mesquitas quando os tiros começaram, mas todos os membros do time ficaram em segurança, disse o treinador à Reuters.

Pouco antes de o ataque começar, uma publicação anônima no fórum 8chan, conhecido por ampla disseminação de conteúdo com discursos de ódio, disse que o autor "iniciaria um ataque contra invasores" e incluía links para uma transmissão ao vivo no Facebook, nos quais o tiroteio era exibido, e um manifesto.

O manifesto citava "genocídio branco", um termo geralmente utilizado por grupos racistas para se referir à imigração e ao crescimento de minorias, como sua motivação.

O link do Facebook direcionava os usuários para a página de um usuário chamado brenton.tarrant.9.

Uma conta do Twitter com o nome @brentontarrant publicou na quarta-feira imagens de um fuzil e de outros equipamentos militares decorados com nomes e mensagens relacionados ao nacionalismo branco. Armas aparentemente iguais apareceram na transmissão ao vivo feita na mesquita nesta sexta-feira.

O Facebook disse ter deletado as contas do atirador “pouco após o início da transmissão ao vivo”, após ser alertado pela polícia. Facebook, Twitter e YouTube disseram ter tomado medidas para excluir cópias dos vídeos de suas redes.

(Reportagem adicional de Tom Westbrook, nJoh Miar e Swati Pane, em Sydney; Ruma Paula, em Da; e Michael Holden, em Londres)