Líderes alertam que projeto dos militares abre brecha para reestruturação de outras carreiras
Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - Líderes da Câmara dos Deputados alertaram nesta quarta-feira que o projeto levado pelo presidente Jair Bolsonaro com mudanças nas regras de aposentadoria e reestruturação da carreira dos militares pode abrir brecha para a discussão de alterações nas carreiras de outras categorias.
Esse foi o caso, por exemplo, do deputado Delegado Waldir (PSL-GO), líder do partido do presidente. Ele comemorou e chamou a atenção para o fato de o governo ter cumprido o prometido ao entregar a proposta dos militares nesta quarta, mas ponderou, no entanto, que ainda fará uma análise do texto encaminhado para verificar se há “equidade com as demais carreiras policiais”.
Para Waldir, a reestruturação da carreira dos militares vem “num momento difícil”.
“No meu entendimento era um diálogo que não era o momento para se discutir. O momento agora é de sacrifícios”, opinou, pouco depois da entrega do projeto levado pessoalmente por Bolsonaro ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“Penso que outras carreiras poderão pedir essa mesma reestruturação, não tenho dúvidas.”
Na mesma linha, o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), também considerou “positiva” a manutenção do prazo original para o envio da proposta dos militares, mas lembrou da tradicional relação entre congressistas e categorias.
“A gente tem que ter cuidado porque a proposta não pode ser seletiva. Temos que dar o mesmo tratamento aos civis e aos militares sob pena de contaminar o ambiente”, disse Elmar a jornalistas.
“Fiquei preocupado quando se fala em reestruturação de carreira. Será que era o momento adequado para se tratar disso? Afinal de contas, tem uma série de carreiras também que pleiteam a mesma coisa”, avaliou.
Questionado sobre eventual resistência à proposta dos militares dentro da bancada do PSL, muito ligada às polícias, afirmou que a obrigação do Parlamento é optar pelo que “for melhor para o Brasil”, e que há ambiente para a adoção de “uma proposta mais dura do que a que veio do governo”.
“Da mesma forma que tem muito parlamentar ligado à segurança pública, tem muito parlamentar ligado à área do magistério, cada um começa a puxar a sardinha para a sua brasa e a gente termina descaracterizando o texto e não fazendo a reforma profunda como o governo sabe que é necessária.”
A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), argumentou que os militares acumularam perdas no passado recente --que, segundo ela, ultrapassam os 70 por cento desde o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso-- e que a reestruturação de carreiras não pode ser tratada como uma “questão sindical”.
“Se nós começarmos a tratar a nova Previdência quase que como uma questão sindical, cada grupo querendo trazer para si, puxar o peixe para seu braseiro, a gente não sai do lugar”, alertou.
Questionado sobre o momento de se apresentar a reestruturação junto com as mudanças da proteção social da carreira militar, o assessor especial do ministro da Defesa, general de Divisão Eduardo Castanheira Garrido Alves, disse em entrevista coletiva que o projeto está buscando “a todo momento valorizar a meritocracia”.
Para Garrido, o projeto proposto é “autossustentável”.
“Sacrifício é uma palavra que conhecemos muito bem e estamos mais uma vez contribuindo com valores significativos para se chegar à reforma", disse, ao frisar que em 2001 houve um achatamento salarial da carreira --numa referência indireta à medida provisória editada na época pelo governo FHC.
(Reportagem adicional de Ricardo Brito)
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