Na guerra, água suja é mais perigosa para crianças do que violência, diz Unicef
Por Kate Ryan
NOVA YORK (Thomson Reuters Foundation) - Crianças de menos de 15 anos de idade estão quase três vezes mais propensas a morrer de doenças decorrentes da falta de água limpa e de saneamento do que pela violência em países em conflito, alertou o Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas (Unicef), nesta sexta-feira.
As mais vulneráveis são as crianças de menos de 5 anos, que são 20 vezes mais propensas a morrer de doenças do que pela violência, disse o relatório do Unicef, divulgado para coincidir com o Dia Mundial da Água.
Especificamente, as crianças morrem de doenças ligadas à diarreia, como o cólera, quando conflitos restringem o acesso à água limpa, informou o documento.
A pesquisa analisou as consequências de água e de saneamento insalubres na saúde de crianças de 16 países passando por conflitos, entre eles Mianmar, Afeganistão e Iêmen.
"Nestes conflitos --e outras emergências-- providenciar água limpa e saneamento rápidos, abrangentes e seguros é uma questão de vida e morte", disse o relatório.
O Unicef relatou 85 mil óbitos infantis decorrentes de diarreia por causa de água, saneamento e higiene inadequados entre 2014 e 2016, muito menos do que as 31 mil mortes causadas pela violência, citando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Não é nenhuma surpresa", disse Tomas Jensen, conselheiro de medicina tropical da instituição de caridade Médicos Sem Fronteiras, à Thomson Reuters Foundation.
"Muitas vezes elas são as que mais correm riscos, especialmente as crianças pequenas, que não desenvolveram imunidade a bactérias que podem causar doenças diarreicas".
As doenças ligadas à diarreia são a segunda principal causa de mortes de todas as crianças de menos de 5 anos, já que esgotam os fluidos corporais e provocam desidratação, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
As crianças, inclusive as de colo, que perdem fluidos mais rápido do que adultos e são menos capazes de comunicar suas necessidades, são particularmente vulneráveis à desidratação, segundo especialistas.
Em conflitos, viajar até uma fonte de água pode acarretar o risco de ser baleado ou agredido sexualmente, alertou o relatório.
A água pode estar contaminada, suas fontes podem estar destruídas ou os moradores podem ser proibidos de usá-la, disse.
No Iêmen, que teve uma das piores epidemias de cólera da história recente, um terço dos casos eram crianças de menos de 5 anos, de acordo com a OMS.
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