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Rússia desiste de processo contra jornalista em recuo devido à opinião pública

11/06/2019 18h40

Por Andrew Osborn e Vladimir Soldatkin

MOSCOU (Reuters) - A polícia da Rússia descartou abruptamente nesta terça-feira as acusações relacionadas a drogas feitas contra o jornalista Ivan Golunov, um recuo raro das autoridades diante da irritação de seus apoiadores, que alegaram que ele foi incriminado devido às suas reportagens e ameaçaram realizar um protesto em massa em Moscou.

Golunov, jornalista de 36 anos conhecido por expor a corrupção entre autoridades municipais de Moscou, foi detido pela polícia na quinta-feira e acusado de traficar drogas, uma alegação que negou com veemência.

    Os jornalistas russos que criticam as autoridades vivem em perigo desde os anos 1990 --às vezes são ameaçados, atacados fisicamente e até assassinados devido ao seu trabalho.

    Mas a maneira enfática como os apoiadores de Golunov disseram que ele foi incriminado e detido desencadeou uma demonstração de união midiática incomum e uma reação atipicamente rápida de autoridades receosas de agitações sociais em um momento no qual o presidente Vladimir Putin já enfrenta inquietações por causa do padrão de vida.

    O ministro do Interior, Vladimir Kolokoltsev, disse que o caso criminal contra Golunov estava sendo encerrado devido à falta de indícios de qualquer irregularidade de sua parte.

    Golunov foi libertado da prisão domiciliar horas mais tarde. Depois que sua tornozeleira eletrônica foi retirada, ele saiu de uma delegacia de polícia no centro de Moscou e foi recebido por centenas de jornalistas, que o aplaudiram.

    Visivelmente emocionado, Golunov agradeceu a todos por seu apoio e disse que continuará seu trabalho.

    "Continuarei o trabalho que estava fazendo e realizarei investigações porque preciso justificar a confiança que aqueles que me apoiam demonstraram em mim", disse.

    Kolokoltsev disse que alguns policiais envolvidos no caso estão sendo afastados temporariamente da função enquanto se realiza uma investigação e que planeja pedir a Putin que demita outras autoridades de mais alto escalão da polícia.

    "Acredito que os direitos de cada cidadão, independentemente de sua profissão, precisam ser protegidos", disse Kolokoltsev.

    Galina Timchenko, diretora-geral do portal de notícias online Meduza, para o qual Golunov trabalha, e outros jornalistas russos destacados disseram em um comunicado:

    "Este foi o resultado de uma campanha jornalística internacional inédita e da solidariedade dos cidadãos. Estamos contentes que as autoridades tenham ouvido a sociedade. É assim que deveria ser quando ocorre uma injustiça."

((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447702)) REUTERS AC