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Bolsonaro e Trump, os maiores desafios do novo chanceler argentino

05/12/2019 09h21

Por Nicolás Misculin

BUENOS AIRES (Reuters) - Uma lista de afazeres considerável aguarda o próximo ministro das Relações Exteriores da Argentina: transitar pelas areias movediças políticas da América Latina, consolidar os laços com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e apaziguar um relacionamento tenso entre seu novo chefe e o presidente Jair Bolsonaro.

Felipe Sola, um peronista de 69 anos com experiência no setor agrícola, deve ser confirmado na sexta-feira como o principal diplomata de seu país no gabinete do presidente eleito Alberto Fernández, disse um porta-voz do partido à Reuters.

O porta-voz de Sola não quis comentar.

Visto em casa como um formador de consenso pragmático dentro da variada facção política peronista, Sola agora enfrenta um desafio internacional: reparar os laços entre Fernández, um líder de centro-esquerda, e Bolsonaro.

Os líderes da primeira e da terceira maiores economias latino-americanas trocaram hostilidades abertamente, o que representa uma ameaça em potencial a relações comerciais que chegaram a 27 bilhões de dólares no ano passado.

Recentemente, Bolsonaro classificou Fernández e seus apoiadores como "bandidos de esquerda", e o argentino reagiu dizendo que o presidente brasileiro é "misógino" e "racista".

"Só o tempo e o pragmatismo evitarão grandes danos", disse o cientista político Andrés Malamud, acrescentando que a Argentina precisa diversificar seus parceiros comerciais para sair da sombra do Brasil, o principal parceiro comercial da Argentina.

Sola, que apareceu ao lado de Fernández com frequência em encontros diplomáticos recentes, é visto como alguém que tem a flexibilidade necessária. Ele ocupou vários cargos em governos peronistas desde o final dos anos 1980, muitos ligados ao setor agrícola -- o principal motor da economia e das exportações da Argentina.

Como rosto internacional do novo governo, Sola também precisará manter os EUA como aliados em meio a negociações complexas com credores, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a respeito da dívida soberana argentina de cerca de 100 bilhões de dólares.

"Buscaremos a melhor relação possível com os Estados Unidos", disse Sola em uma entrevista recente à rádio local La Red, acrescentando que não permitirá que a "ideologia" ameace qualquer laço internacional.

Pode ser que não seja fácil. No início desta semana, Trump disse que reativará tarifas sobre o aço e o alumínio da Argentina e do Brasil, citando a fraqueza de suas moedas.