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Irã pode levar luta para além de suas fronteiras, diz Khamenei em raro sermão

Por Parisa Hafezi
Imagem: Por Parisa Hafezi

17/01/2020 14h08

Por Parisa Hafezi

DUBAI (Reuters) - A Guarda Revolucionária pode levar sua luta para além das fronteiras do Irã, disse o líder supremo nesta sexta-feira, reagindo ao assassinato de seu comandante mais proeminente pelas mãos dos Estados Unidos e aos tumultos antigoverno em casa provocados pela derrubada de um avião de passageiros.

Em seu primeiro sermão nas preces de sexta-feira em oito anos, o aiatolá Ali Khamenei também disse a milhares de iranianos que bradavam "Morte à América!" que as potências nucleares envolvidas no impasse nuclear do Irã com Washington não são confiáveis.

As ambições nucleares iranianas estão no cerne da crise de meses, que irrompeu brevemente em janeiro em ataques militares recíprocos entre o Irã e os EUA.

"A resistência precisa continuar até a região estar completamente livre da tirania do inimigo", disse Khamenei, exigindo que as tropas norte-americanas se retirem do vizinho Iraque e do Oriente Médio como um todo.

A retirada de Washington do acordo nuclear firmado por Teerã com potências mundiais em 2018 e a reativação de sanções dos EUA que abalaram a economia iraniana criaram o ciclo mais recente de hostilidades entre EUA e Irã, que estão em choque desde que a revolução de 1979 depôs o xá apoiado pelos norte-americanos.

O presidente Donald Trump ordenou o assassinato de Qassem Soleimani, comandante da Força Quds, uma unidade da Guarda responsável pela expansão da influência iraniano no exterior, com um ataque de drone no dia 3 de janeiro.

Soleimani criou milícias regionais que Washington culpa por ataques a forças dos EUA.

O Irã reagiu com ataques de mísseis a alvos dos EUA no Iraque em 8 de janeiro, ferindo, mas não matando, soldados norte-americanos. "O fato de o Irã ter o poder de dar um tapa em uma potência mundial mostra a mão de Deus", afirmou Khamenei, acrescentando que o assassinato de Soleimani mostrou a "natureza terrorista" de Washington.

No período tenso que se seguiu aos ataques de mísseis do Irã a alvos dos EUA, durante o qual as forças iranianas esperavam represálias de Washington, as defesas aéreas da Guarda abateram um avião de carreira ucraniano por engano, matando todas as 176 pessoas a bordo, a maioria iranianas ou de dupla nacionalidade.

Demorou dias para a Guarda, que responde diretamente a Khamenei, admitir o erro, embora um comandante tenha dito que informou as autoridades a respeito da causa no mesmo dia. A demora desencadeou protestos em todo o Irã, alguns dos quais foram reprimidos com violência.

O representante especial do Departamento de Estado dos EUA para o Irã, Brian Hook, disse em Washington que as ameaças iranianas arriscavam isolar ainda mais o país.