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OMS diz que "ainda é cedo" para declarar coronavírus emergência global

23/01/2020 18h41

Por Stephanie Nebehay e Yawen Chen

GENEBRA/PEQUIM (Reuters) - A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse nesta quinta-feira que ainda "é cedo demais" para declarar o novo coronavírus como uma emergência de saúde global, enquanto a China colocou milhões de pessoas em isolamento em meio a um surto que já matou 18 pessoas e infectou mais de 630.

Autoridades de Saúde temem que a taxa de transmissão possa crescer enquanto milhões de chineses viajam pelo país e para o exterior durante a semana de feriados do Ano Novo Lunar, que começa no próximo sábado. 

"É um pouco cedo demais para considerar que isso seja uma emergência global de saúde de preocupação internacional", disse o presidente do painel do Comitê de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Didier Houssin, em Genebra.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que o comitê de Emergências, composto por 16 especialistas independentes, estava dividido em sua conclusão.

"Não se enganem, porém, é uma emergência na China", disse Tedros em entrevista coletiva na sede da OMS em Genebra.

    "Ainda não se tornou uma emergência de saúde global, mas pode se tornar uma."

    Ele disse que a China havia tomado as medidas que acredita serem apropriadas.

"Esperamos que elas sejam tanto eficientes quando breves em duração... Por ora, a OMS não recomenda restrições mais amplas a viagens ou ao comércio."

Peter Piot, professor de Saúde Global e diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, disse que o surto está em uma fase crítica.

"Apesar da decisão de não declarar isso uma emergência de saúde pública de interesse internacional, a colaboração internacional e a aplicação de mais recursos será crucial para impedir que o surto continue. Autoridades nacionais e a Organização Mundial da Saúde vão precisar continuar monitorando o desenvolvimento da situação de perto."

Com detalhes sobre casos na China, a TV estatal chinesa informou que 634 casos haviam sido confirmados. Até o final da quarta-feira, a Comissão Nacional de Saúde da China confirmou 17 mortos na província de Hubei.

A Comissão de Saúde da província de Hebei declarou que um paciente de 80 anos infectado com o novo coronavírus morreu, resultando na primeira morte confirmada fora da província de Hubei, onde o surto começou.

Casos não fatais também foram detectados na Tailândia, Vietnã, Cingapura, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Estados Unidos.

Cinco pessoas estavam sendo testadas na Escócia por coronavírus como precaução, informou a BBC na quinta-feira. Todos apresentavam sintomas respiratórios e haviam estado recentemente em Wuhan, segundo a BBC.

Acredita-se que a cepa do vírus anteriormente desconhecida emergiu no final do ano passado de animais silvestres comercializados ilegalmente em um mercado na capital da província de Hubei, Wuhan.

    A maior parte dos transportes em Wuhan, cidade com 11 milhões de habitantes, foi suspensa na manhã de quinta-feira e as pessoas foram instruídas a não sair. Horas depois, a mídia estatal na vizinha Huanggang, uma cidade de cerca de 6 milhões de pessoas, disse que estava impondo um bloqueio semelhante.

    "O bloqueio e isolamento de 11 milhões de pessoas não tem precedentes na história da Saúde Pública", disse Gauden Galea, representante da OMS em Pequim. 

A prefeitura de Pequim cancelou grandes eventos públicos, incluindo duas festividades do Ano Novo Lunar, informou o jornal estatal Beijing News nesta quinta-feira, enquanto autoridades tentavam conter a propagação do novo coronavírus.

O coronavírus, recentemente identificado, tem causado preocupações pois há uma série de fatores desconhecidos que o cercam. Ainda é muito cedo para saber o quão perigoso ele realmente é e o quão facilmente ele pode se espalhar.

Não há vacina para o vírus, que pode ser transmitido pelas vias respiratórias. Os sintomas incluem febre, dificuldades para respirar e tosse, semelhantes a muitas outras doenças respiratórias.

Três equipes de pesquisa vão começar a trabalhar no desenvolvimento de uma vacina, segundo informou uma coalizão global para combater doenças.