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Novo coronavírus se espalha, Trump oferece ajuda à China e mercados se agitam

27/01/2020 18h55

Por Cheng Leng e Josh Horwitz

XANGAI (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ofereceu toda a ajuda necessária à China nesta segunda-feira para controlar um surto de coronavírus que já matou 81 pessoas, isolando dezenas de milhões durante o maior feriado do ano no país asiático e abalando os mercados globais.

Com as autoridades regionais recebendo críticas cada vez maiores do público sobre sua resposta inicial, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, visitou a cidade de Wuhan, epicentro do surto, para encorajar trabalhadores da área e prometer reforços.

As bolsas de ações caíram ao redor do mundo, os preços do petróleo atingiram os patamares mais baixos em três meses e a moeda chinesa, o iuan, caiu para o nível mais fraco neste ano, com os investidores preocupados com os danos à segunda maior economia do mundo, devido às proibições de viagens e um feriado do Ano Novo Lunar ainda mais prolongado.

Logo após Trump oferecer ajuda, o Departamento de Estado dos Estados Unidos alertou os norte-americanos contra visitas a toda China devido ao novo vírus.

Vestindo um traje de proteção azul e máscara, o premiê chinês elogiou os médicos em Wuhan, disse que mais 2.500 trabalhadores da área se juntariam a eles nos próximos dois dias e visitou o local de um novo hospital a ser construído em poucos dias.

O líder mais importante a visitar Wuhan desde o início do surto, Li apareceu na TV estatal liderando trabalhadores da área da saúde em cânticos de "Wuhan jiayou!" --uma exortação para manter a força deles.

RAIVA CRESCENTE

Nas mídias sociais fortemente censuradas da China, as autoridades enfrentam uma ira crescente sobre o vírus, que se acredita ter se originado de um mercado onde animais silvestres eram vendidos ilegalmente.

Alguns criticaram o governador da província de Hubei, da qual Wuhan é a capital, depois que ele se corrigiu duas vezes durante uma entrevista coletiva sobre o número de máscaras faciais sendo produzidas.

"Se ele pode se atrapalhar com os dados várias vezes, não admira que a doença tenha se espalhado tão severamente", disse um usuário da plataforma de mídia social Weibo.

Em rara autocrítica pública, o prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang, disse que a administração da cidade "não é boa o suficiente" e indicou que estava disposto a renunciar.

A cidade, com 11 milhões de pessoas e localizada na região central da China, está em confinamento virtual e grande parte da província de Hubei, lar de quase 60 milhões de pessoas, está sob restrição de viagens.

Em outras partes da China, pessoas de Hubei enfrentavam questionamentos sobre seus movimentos. "O povo de Hubei está sendo discriminado", reclamou um morador de Wuhan no Weibo.

Alguns casos relacionados a pessoas que viajaram de Wuhan foram confirmados em uma dúzia de países, do Japão aos Estados Unidos, onde as autoridades disseram ter 110 pessoas sob investigação em 26 Estados.

O Sri Lanka foi o último país a confirmar um caso até o momento.

INVESTIDORES PREOCUPADOS

Os investidores estão preocupados com o impacto nas viagens, no turismo e na atividade econômica de modo geral. O consenso é que, a curto prazo, a produção econômica será atingida uma vez que as autoridades limitaram as viagens e estenderam por três dias o feriado de Ano Novo de uma semana --quando milhões tradicionalmente viajam de trem e avião e por rodovias-- para limitar a propagação do vírus.

As bolsas de ação da Ásia, Europa e Estados Unidos registravam queda.

"A China é o maior impulsionador do crescimento global, então isso não poderia ter começado em um lugar pior", disse Alec Young, diretor administrativo de pesquisa de mercado global da FTSE Russell.

Durante o surto de 2002-2003 da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que se originou na China e matou quase 800 pessoas em todo o mundo, a demanda de passageiros aéreos na Ásia caiu 45%. A indústria de viagens está mais dependente dos viajantes chineses agora.

Os últimos números oficiais estimam o número total de casos confirmados na China em 2.835, cerca da metade em Hubei. Alguns especialistas suspeitam de um número muito maior.

O número de mortes em Hubei subiu para 76, de acordo com as autoridades, com cinco mortes em outras partes da China, incluindo a primeira em Pequim.

(Reportagem de Winni Zhou, Sun Yilei, Cheng Leng e Josh Horwitz em Xangai; Cate Cadell, Gabriel Crossley e Yawen Chen em Pequim)