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Hospitais dos EUA têm forte redução no uso da hidroxicloroquina contra coronavírus

Michael Erman e Deena Beasley

Nova York

29/05/2020 15h01

Hospitais dos Estados Unidos informaram ter recuado sobre o uso da hidroxicloroquina, droga contra a malária defendida pelo presidente Donald Trump como tratamento para a covid-19, depois de vários estudos sugerirem que o medicamento não é eficaz e pode representar um risco significativo.

As esperanças iniciais a respeito do medicamento foram baseadas em parte em experimentos de laboratório e suas propriedades anti-inflamatórias e antivirais. Mas até agora sua eficácia não foi comprovada em testes em humanos, e pelo menos dois estudos sugerem que pode aumentar o risco de morte.

Vários hospitais que há dois meses disseram à Reuters que usavam hidroxicloroquina frequentemente para pacientes com covid-19 recuaram.

Os pedidos do medicamento caíram para um décimo do pico do final de março, para cerca de 125 mil comprimidos na semana passada, disse a Vizient Inc, compradora de medicamentos para cerca de metade dos hospitais dos EUA.

A redução significativa no uso é um sinal de que os médicos dos EUA não acreditam mais que o potencial benefício da droga supera os riscos. Nesta semana, alguns governos europeus proibiram o uso de hidroxicloroquina em pacientes com covid-19.

O médico Thomas McGinn, chefe-adjunto da Northwell Health, maior sistema de saúde de Nova York, afirmou à Reuters que decidiu parar de prescrever hidroxicloroquina em seus 23 hospitais em meados de abril, após surgimento de dados clínicos.

"As pessoas estavam em nossos hospitais, estavam morrendo e queríamos fazer alguma coisa", lembrou. "Mas no minuto em que os dados foram publicados... mostrando nenhum benefício e dano potencial, acredito que todos precisávamos dar um passo atrás", disse ele.

O Departamento de Veteranos dos EUA (VA), que tem centros médicos em todo o país, também reduziu o uso da droga à medida que outros tratamentos se tornaram disponíveis, disse o secretário do VA, Robert Wilkie, em audiência no Congresso na quinta-feira.

O VA foi um dos primeiros a sinalizar potencial aumento do risco de morte pelo uso de hidroxicloroquina em pacientes com covid-19, em abril.

A revista médica britânica The Lancet publicou, na semana passada, uma análise de 96 mil pacientes com covid-19, mostrando que os que foram tratados com hidroxicloroquina ou cloroquina tiveram maior risco de morte e problemas no ritmo cardíaco.

Trump tem sido um defensor da hidroxicloroquina, chamando-a de "divisor de águas" desde o início. Posteriormente, ele disse que estava tomando o medicamento para prevenir a infecção, apesar de não haver evidências científicas disso, depois que pessoas que trabalhavam na Casa Branca testaram positivo para covid-19. Ele também pediu a outros que experimentassem o medicamento.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um ardoroso defensor do uso da cloroquina no tratamento da covid-19.

Os defensores do medicamento como tratamento contra o coronavírus argumentam que ele pode precisar ser administrado em um estágio inicial da doença para ser eficaz. Os médicos estão aguardando estudos que possam provar isso.