Topo

Procurador de Manhattan renuncia e encerra impasse com secretário de Justiça

21/06/2020 15h35

Por Sarah N. Lynch e Karen Freifeld

WASHINGTON/NEW YORK (Reuters) - Um impasse sobre a independência de um dos gabinetes de promotoria mais importantes dos Estados Unidos terminou, neste sábado, quando Geoffrey Berman concordou em renunciar como procurador do Distrito Sul de Nova York, o gabinete que investigava o advogado pessoal do presidente Donald Trump, Rudolph Giuliani.

A confirmação da saída de Berman aconteceu depois que o Secretário de Justiça dos Estados Unidos, William Barr, lhe disse que havia sido demitido por Trump, a pedido de Barr, e que o seu segundo no comando, escolhido a dedo por Berman, a vice-procuradora Audrey Strauss, seria a chefe interina até que um substituto permanente fosse escolhido.

Sob a liderança de Strauss, Berman disse que o gabinete continuaria sua “tradição de integridade e independência”.

O gabinete de Berman, conhecido por processar os casos de terrorismo mais notórios, crimes financeiros de Wall Street e corrupção do governo, não se esquivou de enfrentar figuras que giram na órbita de Trump.

Supervisionou o processo de Michael Cohen, ex-advogado pessoal de Trump, indiciou dois associados de Giuliani e lançou um inquérito contra Giuliani relacionado às suas tentativas de reunir sujeira contra adversários políticos de Trump na Ucrânia.

Giuliani não foi formalmente denunciado por qualquer iregularidade.

O impasse com Berman aconteceu depois da última série de medidas de Barr, que, segundo críticos, têm o objetivo de beneficiar Trump e prejudicar a independência do Departamento de Justiça.

Também chegam no momento em que Trump busca expelir oficiais que não são vistos com totalmente a favor do presidente. Nas últimas semanas, ele demitiu uma série de agentes de supervisão, inclusive um que desempenhou um papel chave no impeachment de Trump no começo deste ano.

O conflito com Berman começou no final de sexta-feira, quando Barr inesperadamente anunciou que Berman renunciaria e seria substituído pelo presidente da Comissão de Segurança e Câmbio dos EUA, Jay Clayton.

Berman, no entanto, emitiu um comunicado próprio, dizendo que não tinha intenção de renunciar até que o Senado confirmasse seu sucessor, e que as investigações de seu gabinete continuariam.

Na sexta-feira, Barr disse que havia escolhido Craig Carpenito, procurador do Distrito Sul de Nova Jérsei, para atuar interinamente até que Clayton fosse confirmado.

Mas, em uma carta no sábado para Berman, Barr recuou nesse plano, dizendo que Strauss assumiria interinamente.

Um ex-promotor do Distrito Sul, sob a condição de anonimato, falou que a decisão inicial de Barr de indicar Carpenito era “um grande desvio” das práticas habituais.

Na carta, Barr disse que estava “surpreso e bem decepcionado” pelo comunicado de Berman na noite de sexta-feira, no qual se recusou a renunciar, e acusou Berman de preferir “espetáculo público ao serviço público”.

“Eu pedi que o presidente o removesse até hoje, e ele o fez”, disse Barr.

‘EU NÃO ME ENVOLVO’

Trump afirmou à emissora Fox News que aprovou o pedido de Barr e disse que não sabia que Giuliani estava sendo investigado por Berman, embora tenha lido essa informação recentemente.

“Se (Barr) quiser fazer algo… eu não me envolvo”, disse Trump, em uma entrevista. “Mas o presidente tem que assinar o documento, onde suponho que ele dê o ok. E ele quer comandar sua operação e está tudo bem para mim”.

Questionado se Barr disse o motivo pelo qual queria demitir Berman, Trump afirmou: “Passamos pouco tempo falando sobre isso, mas tenho muito respeito pelo Procurador-Geral”.