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BC mantém juros em 2%, mas retira compromisso de não elevar a Selic

20/01/2021 18h48

Por Isabel Versiani

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve a taxa básica de juros na mínima histórica de 2% ao ano nesta quarta-feira, mas, em meio a pressões inflacionárias, retirou do seu comunicado o "forward guidance", com o qual mantinha o compromisso de não elevar os juros desde que algumas condições estivessem satisfeitas.

"O forward guidance deixa de existir e a condução da política monetária seguirá, doravante, a análise usual do balanço de riscos para a inflação prospectiva", afirmou o Comitê de Política Monetária (Copom) em comunicado, reiterando que a suspensão da orientação não implica "mecanicamente" uma elevação da taxa de juros.

Com o 'forward guidance' (orientação futura), adotado em agosto, o Copom se comprometeu a não elevar os juros até que as expectativas e projeções de inflação se aproximassem das metas no horizonte considerado relevante para a política monetária (até 2022) e contanto que o governo mantivesse seu regime fiscal.

"Em vista das novas informações, o Copom avalia que essas condições deixaram de ser satisfeitas já que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estão suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária", afirmou o Copom nesta quarta-feira.

Em sua última reunião de 2020, em dezembro, o Copom já tinha afirmado que as condições para o 'forward guidance' poderiam não estar mais satisfeitas "em breve", mas ressaltou que a retirada da orientação não implicaria mecanicamente uma elevação da taxa de juros.

Na última semana, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, disse, por outro lado, que não haveria impedimento a uma elevação dos juros logo após a retirada do 'forward guidance' e que considerava "natural" uma discussão sobre a normalização da Selic.

Esta foi a quarta reunião seguida em que o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa de juros estável.

Em pesquisa Reuters, todos os 32 economistas consultados esperavam a manutenção da Selic, mas, em meio a pressões inflacionárias, a maioria indicou que o viés para os juros é de alta.

"Nossa avaliação é de que o Banco Central deve iniciar a trajetória de normalização da política monetária a partir de agosto de 2021. A retirada do 'forward guidance' neste momento pode antecipar esse início de normalização da política monetária", afirmou José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.

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INFLAÇÃO

A inflação ao consumidor medida pelo IPCA fechou 2020 em 4,52%, acima da meta central de inflação de 4%. A meta deste ano é de 3,75%, também com uma margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.

No comunicado desta quarta, o Copom afirmou, pela primeira vez nos últimos meses, que os núcleos de inflação --que desconsideram os preços mais voláteis-- apresentam-se em níveis acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação.

Também destacou que a recente elevação no preço de commodities internacionais e seus reflexos sobre os preços de alimentos e combustíveis implicam elevação das projeções de inflação para os próximos meses.

"Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, ainda que tenham se revelado mais persistentes do que o esperado", disse o Copom.

As expectativas de inflação do mercado para 2022 estão em 3,5%, que corresponde à meta central para aquele ano. Para este ano, as expectativas ficaram muitos meses bem abaixo da meta central de 3,75%, ao redor de 3%, mas passaram a subir no período mais recente e hoje estão em 3,4%, segundo o relatório Focus do BC.

O Copom informou que, em seu cenário básico, projeta que o IPCA fechará este ano em torno de 3,6%, caindo a 3,4% no ano que vem.

Sobre a atividade econômica, os diretores do BC destacaram que, domesticamente, indicadores referentes ao final do ano passado têm surpreendido positivamente, mas fizeram a ressalva de que os dados não contemplam possíveis efeitos do recente aumento no número de casos de Covid-19 no país.

Já no cenário externo, a avaliação foi que, ainda que o aumento de casos de Covid e o aparecimento de novas cepas do vírus provavelmente afetarão a atividade no curto prazo, os estímulos fiscais e a vacinação devem promover uma "recuperação sólida".

"O comunicado veio 100% em linha com o esperado, mas vale citar as referências a uma inflação de curto prazo um pouco mais para acima do que o esperado, às reformas e à incerteza sobre o ritmo de crescimento", afirmou Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora.

"O Copom não parece com pressa para subir juros e ainda haverá muito a acontecer até a próxima reunião de 16 e 17 de março --na lista estão os primeiros dias dos novos presidentes da Câmara e do Senado."

(Com reportagem adicional de José de Castro em São Paulo e Gabriel Ponte em Brasília)