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Presidente da Anvisa vê vacinação como essencial e diz ter conduta diferente de Bolsonaro

11/05/2021 13h35

Por Maria Carolina Marcello e Eduardo Simões

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, disse em depoimento à CPI da Covid no Senado nesta terça-feira que as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre vacinas vão contra o que é defendido pela agência reguladora e afirmou que sua conduta em relação à pandemia é diferente da que é adotada por Bolsonaro.

Diante de uma pergunta do relator da Comissão Parlamentar de Inquérito, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que citou várias declarações de Bolsonaro contrárias à vacina, Barra Torres afirmou que questionar a vacinação vai contra a razoabilidade histórica e apontou a imunização como essencial para sair da pandemia.

"Todo o texto que Vossa Excelência leu e trouxe à memória agora vai contra tudo o que nós temos preconizado em todas as nossas manifestações públicas, pelo menos todas aquelas que eu tenho e aquelas que eu tenho conhecimento que diretores, gerentes e funcionários da Anvisa tem feito", afirmou, diante das declarações do presidente mencionadas pelo relator.

"Entendemos, ao contrário do que o senhor acabou de ler, que a política de vacinação é essencial. Nós temos que vacinar as pessoas. Entendemos também que não é o fato de vacinar que vai abrir mão do uso de máscara, de isolamento social e de álcool gel imediatamente."

O presidente da Anvisa também foi questionado pelo relator da CPI se partilhava da opinião de Bolsonaro em relação ao distanciamento social e ao uso de máscaras, e respondeu: "Destarte a amizade que tenho pelo presidente, a conduta do presidente difere da minha neste sentido. As manifestações que faço têm sido todas no sentido do que a Ciência determina".

Indagado sobre o passeio de motocicleta que Bolsonaro fez no último domingo, quando o presidente voltou a gerar aglomerações em Brasília novamente sem usar máscara, o presidente da Anvisa disse ser contra aglomerações e sustentou que qualquer posição contrária a medidas preventivas como o uso de máscaras "não tem nenhum sentido do ponto de vista sanitário".

Bolsonaro já questionou em diversas ocasiões os imunizantes contra Covid-19. Ele chegou a comemorar como uma vitória pessoal a breve interrupção no ano passado dos testes com a CoronaVac, vacina da chinesa Sinovac, conduzidos pelo Instituto Butantan, após a morte de um voluntário que posteriormente soube-se se tratar de um suicídio não relacionado ao imunizante.

O presidente também travou embate com a Pfizer em 2020, por considerar que o contrato oferecido pelo laboratório trazia cláusulas abusivas. Bolsonaro resistia, principalmente, ao fato de a empresa se eximir de responsabilização civil no caso de eventuais efeitos adversos. Nesse contexto, chegou a afirmar, quando comentava os possíveis efeitos colaterais do imunizante, que "se você virar um jacaré, é problema seu".

BULA DA CLOROQUINA

No depoimento à CPI, Barra Torres também manifestou posição divergente da de Bolsonaro ao ser perguntado sobre o uso da cloroquina contra a Covid-19. Segundo ele, os estudos existentes até o momento apontam que o medicamento não é eficaz no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus.

"A minha posição sobre o tratamento precoce da doença não contempla essa medicação", afirmou. "Contempla, sim, a testagem, o diagnóstico precoce e, obviamente, a observação de todos os sintomas que a pessoa pode ter e tratá-los, combatê-los o quanto antes", declarou.

O diretor-presidente da Anvisa confirmou ainda que participou de reunião no Palácio do Planalto, relatada à CPI pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em que foi aventada mudança na bula da cloroquina para incluir a indicação para o tratamento contra a Covid-19.

Barra Torres, que referiu-se à proposta como "absurda", confirmou a existência de um documento que sugeria a mudança, comentado pela médica Nise Yamaguchi. O diretor-presidente relatou que também participaram da reunião o então ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, Mandetta, e um outro médico do qual ele não se lembra. Ele negou a presença de algum filho de Bolsonaro neste encontro.

Barra Torres explicou que somente quem pode pedir uma mudança na bula de um medicamento é o laboratório responsável pelo remédio e a solicitação só é aprovada pela Anvisa diante da documentação que dê base para a mudança. Ele afirmou que reagiu de forma "até deseducada" à sugestão de mudança na bula da cloroquina.

"Quando houve uma proposta de uma pessoa física fazer isso, isso me causou uma reação um pouco mais brusca. Eu disse: 'Olha, isso não tem cabimento, isso não pode'. E a reunião, inclusive, nem durou muito mais depois disso", afirmou.