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Elite do Peru entra em pânico e guarda dinheiro em casa diante de provável vitória de Castillo

15/06/2021 09h45

Por Marcelo Rochabrun

LIMA (Reuters) - Em Lima, capital do Peru, é cada vez maior o temor da pequena, mas poderosa elite urbana em relação à eleição provável de um professor socialista quase desconhecido para o posto de presidente do país sul-americano.

Pedro Castillo está prestes a ser declarado presidente. Com quase todos os votos contados, sua vantagem sobre a rival conservadora Keiko Fujimori é pequena, mas parece ser suficiente, embora o resultado final ainda possa demorar dias ou até semanas devido às contestações legais.

Durante a campanha, Castillo prometeu elevar acentuadamente os impostos sobre a mineração no segundo maior produtor mundial de cobre para financiar os gastos sociais e reescrever a Constituição, com vistas a dar ao governo mais musculatura na condução da economia --além de insinuar possíveis reformas agrárias.

Os conservadores que apoiam Keiko não demoraram para insuflar os temores de uma ascensão do "comunismo" e a ressuscitar fantasmas antigos de tomadas de terra e de um colapso semelhante ao da Venezuela. Luminosos apareceram na capital dizendo "Pense em seu futuro, diga não ao comunismo". Eles não mencionaram Castillo, e ninguém assumiu sua autoria.

"O partido (de Castillo) é marxista-leninista. Ele diz que mudará a Constituição, que realizará expropriações. Então, se ele fizer tudo isso, não deveria ser nenhuma surpresa", disse Alfredo Thorne, um ex-ministro das Finanças, à Reuters.

Nas últimas semanas, à medida que sua vitória parecia mais provável, Castillo suavizou a retórica, refutando comparações com políticos de esquerda autoritários como o falecido venezuelano Hugo Chávez. Ele convocou conselheiros mais moderados, adotou uma mensagem mais pró-mercado e nega que planeje nacionalizar ou expropriar poupanças.

Mas muitos moradores das partes mais ricas de Lima --que votaram majoritariamente em Keiko-- continuam temerosos.

"Todos os meus amigos colocaram o dinheiro no exterior, não conheço ninguém que não tenha retirado seu dinheiro", disse um advogado da cidade que serve nos conselhos de várias corporações grandes e que também sacou recursos.

Algumas famílias estão dividindo propriedades entre parentes ou colocando-as em trustes, disse ele, e em alguns casos retirando dinheiro em espécie para guardá-lo em casa em maletas.

Analistas, no entanto, afirmam que um Congresso fragmentado limitará uma mudança radical e forçará Castillo a ser pragmático, o que pode até criar potenciais oportunidades de compras para investidores.