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Biden e Putin se reúnem com muitas discordâncias e baixas expectativas

16/06/2021 09h58

Por Steve Holland e Vladimir Soldatkin

GENEBRA (Reuters) - Os presidentes norte-americano, Joe Biden, e russo, Vladimir Putin, se reúnem pela primeira vez desde que Biden assumiu o cargo com profundas divergências e baixas expectativas de qualquer avanço.

Ambos disseram que esperam que as conversas em uma vila à beira do lago em Genebra possam levar a relações mais estáveis e previsíveis, embora permaneçam em desacordo sobre tudo, de controle de armas e ciber-hacking a interferências em eleições e a Ucrânia.

"Não estamos esperando um grande pacote de resultados desta reunião", afirmou uma autoridade sênior dos EUA a repórteres a bordo do Air Force One, na viagem de Biden a Genebra, dizendo que os dois devem conversar por quatro ou cinco horas a partir das 13h30 (8h30 de Brasília).

Putin chegou a Genebra na quarta-feira, mostraram imagens da Reuters TV.

"Não tenho certeza se algum acordo será firmado", disse o conselheiro de política internacional de Putin, Yuri Ushakov.

As relações tem se deteriorado há anos, principalmente com a anexação da Crimeia pela Ucrânia em 2014, a intervenção na Síria em 2015 e as acusações dos EUA - negadas por Moscou - de interferência nas eleições de 2016 que levaram Donald Trump à Casa Branca.

Elas pioraram ainda mais em março quando Biden disse que achava que Putin era um “matador”, levando a Rússia a convocar seu embaixador em Washington para consultas. Os Estados Unidos chamaram de volta o seu próprio embaixador em abril.

A autoridade sênior dos EUA disse que o país buscaria áreas "em que trabalhar juntos possa avançar nossos interesses nacionais e tornar o mundo um lugar mais seguro".

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a decisão de enviar ou não os embaixadores novamente seria tomada pelos dois presidentes. "Os presidentes determinarão como proceder em relação aos chefes das missões diplomáticas", teria dito Peskov, segundo agências de notícias russas.

LOCKDOWN

Na quarta-feira, o perímetro da reunião estava sob um rígido lockdown e com forte presença da polícia. Após a reunião bilateral, Biden e Putin continuarão a discussão com outros membros das delegações de EUA e Rússia, incluindo o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, com a presença de tradutores.

O controle de armas é um assunto em que o progresso historicamente sempre foi possível, apesar de divergências mais amplas.

Em fevereiro, Rússia e Estados Unidos estenderam por cinco anos o novo tratado START, que limita as suas ogivas nucleares estratégicas e também mísseis e bombardeiros, em terra e submarinos, usados para lançá-las.

A autoridade sênior dos EUA disse que Biden também definiria áreas de vital interesse nacional em que má conduta da Rússia geraria uma resposta. Biden assinou uma ordem executiva em abril dando a Washington muita liberdade para impor sanções a Moscou.

Em um sinal de laços tensionados, as conversas não incluirão refeições, e Putin e Biden devem realizar entrevistas coletivas separadas em vez de uma conjunta.

"Não vamos partilhar o pão", disse a autoridade sênior norte-americana.

Vladimir Frolov, ex-diplomata russo, afirmou à Reuters que Putin queria relações respeitosas e ser tratado como membros do Politburo soviético eram nos anos 1960-1980, com um "reconhecimento simbólico da paridade geopolítica da Rússia com os EUA".

"Em troca, eles (Moscou) estariam dispostos a cortar algumas das doidices", afirmou Frolov, esclarecendo que queria dizer "sem envenenamentos, sem violência física, sem prisões/sequestros de cidadãos norte-americanos e russos. Sem interferência em política doméstica".

Dmitri Trenin, diretor do think thank Carnegie Moscow Center, tinha expectativas baixas para a reunião desta quarta-feira.

"O principal resultado, em termos positivos, da reunião de Genebra seria assegurar que não haja agressões físicas entre Estados Unidos e Rússia, para evitar uma colisão militar", disse.

Ao contrário de Trump, cuja reunião em 2018 com Putin em Helsinki incluiu uma reunião que foi acompanhada apenas por tradutores, Biden e Putin não devem ter nenhuma conversa sozinhos.

Ao lado de Putin em Helsinki, Trump se recusou a culpar o líder russo pela interferência nas eleições norte-americanas de 2016, questionando as descobertas das suas próprias agências de inteligência e gerando uma onda de críticas internas.

(Reportagem de Steve Holland e Vladimir Soldatkin; Reportagem adicional de Humeyra Pamuk e Stephanie Nebehay em Genebra, Tom Balmforth e Andrew Osborn em Moscou)