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Bolsonaro diz que "briga" é com Barroso e volta a atacar presidente do TSE

03/08/2021 09h47

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira que sua "briga" é com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, e voltou a atacá-lo em fala a apoiadores nesta manhã, acusando-o de não ser confiável, afirmando que não será intimidado e que "eleições não confiáveis não serão admitidas".

Na noite de segunda-feira, o plenário do TSE aprovou a abertura de inquérito para investigar Bolsonaro por divulgar notícias falsas sobre as urnas eletrônicas. O tribunal também enviou notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) para incluir o presidente no inquérito das fake news.

Horas antes, Barroso e 17 ex e futuros presidentes da corte eleitoral --o que incluiu oito dos atuais ministros do STF, além do presidente do TSE-- tinham divulgado uma nota afirmando que a impressão do voto digitado na urna eletrônica não é um mecanismo adequado de auditoria e o sistema eletrônico de votação é auditável em todas as suas etapas.

"O ministro Barroso presta um desserviço à nação brasileira", disse Bolsonaro a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, em fala transmitida em suas redes sociais.

"Cooptando gente de dentro do Supremo, querendo trazer para si, ou de dentro do TSE, como se fosse uma briga minha contra o TSE ou contra o Supremo. Não é contra o TSE nem contra o Supremo. É contra um ministro do Supremo, que é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral, querendo impor a sua vontade",

No encontro com seus apoiadores, Bolsonaro citou relatórios da Polícia Federal --também apresentados na sua live de quinta-feira-- para afirmar que as urnas não são confiáveis. O presidente, no entanto, usou apenas parte dos textos dos peritos da PF.

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, que teve acesso aos relatórios sobre as urnas em 2016, 2018 e 2020, os peritos não apontaram qualquer possibilidade de fraude ou adulteração nas urnas eletrônicas. Os peritos teriam defendido uma forma de impressão do voto como uma forma adicional de segurança, não como essencial.

Bolsonaro ainda convocou nesta terça a população para o que chamou de um "recado final" em defesa da mudança do sistema de votação para incluir o voto impresso. Pediu que seus apoiadores organizem uma manifestação em defesa do voto impresso na Avenida Paulista, em São Paulo, e prometeu participar.

"Repito, o ultimo recado para que eles entendam o que está acontecendo, passem a ouvir o povo", disse.

Não explicou, no entanto, o que viria depois do "recado final" no caso da proposta ser derrotada na Câmara dos Deputados --o que, no momento, é a maior tendência.

A proposta deve ser apreciada na quinta-feira na comissão especial da Casa que analisa uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata do tema, se a sessão não for interrompida novamente. Com a derrota como resultado mais provável, os governistas na comissão têm manobrado para evitar a votação. Se derrotada, a PEC não vai a plenário.

Apesar da decisão ser do Congresso, Bolsonaro elegeu Barroso como inimigo principal, já que o ministro é um vocal opositor da ideia defendida pelo presidente. Com a decisão de ontem, o TSE pela primeira vez reage à sequência de informações falsas e ameaças que o presidente tem divulgado no último ano e meio contra as eleições.

Em março de 2020, em Miami, Bolsonaro afirmou pela primeira vez que tinha provas de que teria tido votos roubados em 2018 e teria ganho no primeiro turno, mas não apresentou as provas, mesmo instado pelo TSE. Nas últimas semanas vinha prometendo apresentar provas de fraudes nas eleições de 2014 e 2018, mas na live que tinha dito que faria isso, na última quinta-feira, mostrou apenas o que chamou de indícios, incluindo a eleição de 2020, reproduzindo suspeitas levantadas em redes sociais.

Uma das justificativas de Bolsonaro para suspeitar, por exemplo, das eleições em 2020, foi que duas mulheres candidatas a vereadoras a quem ele apoiou tiveram votações pífias.

A decisão do TSE, no entanto, não diminuiu o tom de Bolsonaro, que voltou aos ataques e ameaças.

"Não serão admitidas eleições duvidosas ano que vem", declarou. "Jurei dar minha vida pela pátria. Não aceitarei intimidações. Vou continuar exercendo meu direito de cidadão de criticar, ouvir, e atender acima de tudo a vontade da população".

Bolsonaro voltou ainda a dizer que ditaduras são precedidas de políticas de desarmamento da população, algo que ele sempre diz mesmo sem fatos para corroborar a afirmação, e defendeu sua postura de liberar cada vez mais a compra de armas porque, segundo ele, "o povo de bem" tem que estar armado para que "protótipos de ditadores não façam valer sua vontade".

Procurada, a assessoria do ministro Barroso não respondeu de imediato a pedido de comentário.