Velocista de Belarus chega à Polônia após se recusar a voltar para casa
Por Gabrielle Tétrault-Farber e Antoni Slodkowski
TÓQUIO (Reuters) - A velocista bielorrussa Krystsina Tsimanouskaya refugiou-se na Polônia nesta quarta-feira depois de se recusar a retornar ao seu país vinda das Olimpíadas de Tóquio, em uma saga que lembra as deserções esportivas da Guerra Fria.
O caso envolvendo a atleta de 24 anos pode isolar ainda mais Belarus, que está sob sanções financeiras e econômicas do Ocidente após o recrudescimento da repressão do presidente Alexander Lukashenko contra a oposição desde o ano passado.
Depois de passar duas noites na embaixada da Polônia, a velocista de 24 anos entrou no avião no aeroporto de Narita usando óculos de sol decorados com as palavras "EU CORRO LIMPA" rumo a Viena.
Inicialmente, ela pegaria um voo para Varsóvia. Um porta-voz do governo polonês disse que na última hora ela optou por um voo com destino à capital da Áustria por temer por sua privacidade e segurança depois que a notícia sobre seu plano veio a público e repórteres reservaram assentos no voo.
As preocupações são particularmente grandes devido a um incidente ocorrido em maio, quando um avião da Ryanair foi forçado a pousar em Belarus e um jornalista dissidente foi preso, disse a fonte polonesa.
De Viena, ela foi para Varsóvia. A Polônia, que há muito tempo critica Lukashenko e abriga muitos ativistas de Belarus, concedeu a ela e a seu marido vistos humanitários.
A corredora causou um incidente diplomático no domingo, quando disse que seus treinadores abreviaram sua participação nos Jogos de Tóquio, exigindo que ela fizesse as malas na Vila Olímpica e levando-a ao aeroporto contra sua vontade por ela tê-los criticado publicamente.
Ela se recusou a embarcar no voo e pediu proteção da polícia japonesa.
"Não voltarei a Belarus", disse ela à Reuters na ocasião.
O Comitê Olímpico Nacional de Belarus informou que os treinadores decidiram retirar a atleta dos Jogos seguindo conselho de médicos a respeito de seu estado emocional e psicológico.
Um porta-voz do Ministério do Interior de Belarus não foi encontrado para comentar sobre a segurança do voo de Tsimanouskaya. Autoridades do governo bielorrusso pouco disseram publicamente sobre o caso dela.
COI INVESTIGA
O Comitê Olímpico Internacional (COI) iniciou uma investigação sobre a alegação de Tsimanouskaya de que foi retirada da Vila Olímpica, e disse nesta quarta-feira que recebeu um relatório da equipe bielorrussa.
"O COI está montando uma comissão disciplinar para estabelecer os fatos deste caso e para ouvir as duas autoridades –Artur Shumak e Yuri Moisevich– que supostamente se envolveram neste incidente", disse o porta-voz do COI, Mark Adams.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acusou o regime do presidente bielorusso, Alexander Lukashenko, de intolerável "repressão transnacional" no assunto.
O incidente chamou a atenção para Belarus, onde a polícia reprimiu dissidentes após uma onda de protestos desencadeada por uma eleição no ano passado que, segundo a oposição, foi fraudada para manter Lukashenko no poder.
Autoridades bielorrussas caracterizaram os manifestantes antigovernamentais como criminosos ou revolucionários violentos apoiados pelo Ocidente e descreveram as ações de suas próprias agências de segurança como apropriadas e necessárias.
(Por Gabrielle Tétrault-Farber e Antoni Slodkowski em Tóquio, Alan Charlish em Varsóvia; reportagem adicional de Karolos Grohmann, Parniyan Zemaryalai, Akira Tomoshige, Angie Teo e Pak Yiu)
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