Chile abriga maior comunidade palestina fora do Oriente Médio: 'Vivemos pacificamente'
A comunidade palestina do Chile, a maior fora do Oriente Médio, é uma força na nação andina, envolvida na política local, na cultura e no futebol. Agora, ela está fazendo com que o Chile seja uma das vozes regionais mais altas a criticar Israel por sua ação militar em Gaza.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, político moderado da esquerda latino-americana, chamou o embaixador do país em Tel Aviv na semana passada e disse que Israel não estava cumprindo a lei internacional.
Em uma postagem no X, anteriormente conhecido como Twitter, Boric acrescentou que a operação militar israelense "neste estágio age como uma punição coletiva à população civil em Gaza". Ele levantou a questão com o presidente norte-americano, Joe Biden, durante uma reunião bilateral na última quinta-feira em Washington.
"Não há dúvida de que podemos dizer que a resposta foi desproporcional e está violando o direito internacional humanitário", afirmou Boric aos repórteres após a reunião na Casa Branca.
A embaixada israelense em Santiago disse que não faria comentários sobre seu relacionamento com o governo de Boric.
As raízes da comunidade palestina são profundas no Chile, com a imigração iniciada no final do século 19, quando os cristãos fugiram do Império Otomano.
Atualmente, estima-se que o Chile tenha mais de meio milhão de palestinos, muitos deles de terceira, quarta ou até quinta geração, uma minoria substancial em um país com menos de 20 milhões de habitantes.
A comunidade está empenhada, realizando atos em frente ao palácio presidencial, organizando concertos beneficentes, clamando por um cessar-fogo e pressionando por boicotes. Os membros da comunidade se reuniram com o ministro das Relações Exteriores para pressionar o governo a exigir um cessar-fogo de Israel.
A comunidade palestina aqui é tão diversa quanto qualquer outra comunidade, vivemos em todas as cidades e territórios do Chile, disse Claudia Yarur, contando que seus bisavós tinham passaportes do Império Otomano quando imigraram para o Chile.
Yarur apoia um boicote a Israel e quer que o governo chileno corte os laços diplomáticos com o país.
"Queremos que a perseguição ao povo palestino termine", declarou Yarur. "O que temos que fazer é nos concentrar em pressionar Israel a parar com esses crimes de perseguição, e o governo do Chile tem essa responsabilidade, como todos os governos do mundo."
Há um vibrante Clube Social Palestino em um setor rico de Santiago com instalações de última geração, um grupo chileno-palestino no congresso e um time de futebol centenário da primeira divisão, Palestino FC.
"Nossa comunidade vive pacificamente aqui", disse Georges Abed, o pároco nascido na Síria da Catedral de São Jorge, no bairro Patronato, no centro de Santiago, a zona de desembarque original dos palestinos no Chile.
Eles estão na direita, na esquerda, no governo, nas universidades, na indústria, no comércio, nos bancos, no exército e nos Carabineros (força policial).
Embora muito menor em tamanho, a comunidade judaica do Chile conta com cerca de 16 mil pessoas, a terceira maior da América do Sul, depois da Argentina e do Brasil. Em um comunicado à imprensa, a comunidade judaica disse que rejeita a decisão de Boric de retirar o embaixador e que as ações do governo chileno "acabam validando as ações do grupo terrorista Hamas".
Apesar do apoio generalizado, muitos membros da comunidade palestina e proprietários de empresas não quiseram falar com a Reuters por medo de represálias ou de não serem autorizados a voltar para Cisjordânia ou Gaza.
Países de toda a América Latina intensificaram as condenações ao ataque de Israel a Gaza, com México, Brasil, Peru, Argentina e Colômbia criticando os ataques. A Bolívia tomou a medida mais drástica, cortando os laços diplomáticos com Israel.
O Chile é um dos pelo menos 138 países que reconhecem um Estado Palestino.