Guiana e Venezuela concordam em não usar força ou elevar tensões em disputa por Essequibo
Por Kiana Wilburg e Vivian Sequera e Julia Symmes Cobb
KINGSTOWN (Reuters) - A Guiana e a Venezuela concordaram na quinta-feira em evitar o uso da força e não aumentar as tensões em sua disputa pela área de Essequibo, rica em petróleo, após uma reunião entre seus chefes de Estado em São Vicente e Granadinas.
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A região de 160.000 km² é reconhecida de modo geral como parte da Guiana, mas, nos últimos anos, a Venezuela reativou sua reivindicação ao território e às áreas offshore após grandes descobertas de petróleo e gás.
Os dois países disseram em uma declaração conjunta que "não ameaçarão ou usarão a força um contra o outro em nenhuma circunstância" e "se absterão, seja por palavras ou ações, de escalar qualquer conflito ou discordância".
As tensões aumentaram muito este mês depois que eleitores, em um plebiscito venezuelano, apoiaram uma iniciativa para tornar a área de Essequibo um novo Estado venezuelano e rejeitaram a jurisdição da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que está julgando o caso sobre a disputa de fronteira.
Os ânimos ficaram ainda mais inflamados depois que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse na semana passada que autorizaria a exploração de petróleo na região de Essequibo.
O presidente da Guiana, Irfaan Ali, e Maduro se reuniram no aeroporto de Kingstown na quinta-feira, juntamente com representantes da união política e econômica do Caribe Caricom, Brasil, Colômbia, Nações Unidas e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos.
"Foi um dia frutífero, intenso, em momentos tensos, em que pudemos falar a verdade", disse Maduro depois de chegar de volta à Venezuela no final da quinta-feira, agradecendo também a Ali por sua "franqueza e disposição para manter um amplo diálogo".
"Valeu a pena defender a verdade da Venezuela", acrescentou Maduro, saudando a reunião como um triunfo da diplomacia.
A declaração conjunta informou que as disputas serão resolvidas de acordo com o direito internacional, embora tenha observado que o governo de Maduro não reconhece a CIJ.
Os dois países continuarão seu diálogo no Brasil nos próximos três meses, acrescentou a declaração.
A Guiana afirmou que suas fronteiras não estão em discussão e questionou a participação no plebiscito. Analistas políticos em Caracas disseram que a votação foi uma tentativa de Maduro de medir o apoio ao seu governo antes da eleição presidencial de 2024, e não um prelúdio para invasão.
Após o plano de Maduro de autorizar a exploração de petróleo, Ali procurou tranquilizar os investidores em projetos aprovados pelo governo da Guiana, que incluem a Exxon Mobil e em breve incluirão a Chevron.
A Guiana tem o direito de "aprovar e facilitar qualquer desenvolvimento, qualquer investimento, qualquer parceria, qualquer negociação... emitir qualquer licença e conceder qualquer concessão em nosso espaço territorial e em nosso espaço soberano", disse Ali aos jornalistas no início do dia.