Venezuela liberta dezenas de pessoas, incluindo norte-americanos, em troca de presos
Por Marianna Parraga, Mayela Armas e Trevor Hunnicutt
CARACAS/WASHINGTON, Dec 20 (Reuters) - O governo da Venezuela está libertando pelo menos 20 presos ligados à oposição e 10 norte-americanos em troca da libertação, pelos EUA, de um aliado do presidente Nicolás Maduro, disseram duas autoridades norte-americanas e fontes venezuelanas nesta quarta-feira.
Relacionadas
O aliado de Maduro é o empresário colombiano Alex Saab, que recebeu clemência do presidente dos EUA, Joe Biden, e retornou à Venezuela nesta quarta-feira.
Promotores dos EUA dizem que Saab desviou cerca de 350 milhões de dólares da Venezuela via Estados Unidos em um esquema que envolvia o suborno de autoridades do governo venezuelano. Ele nega a acusação.
Como parte do acordo, todos os seis norte-americanos classificados pelos EUA como detidos injustamente na Venezuela foram libertados e estão a caminho de casa, juntamente com outros quatro norte-americanos, de acordo com autoridades norte-americanas, que não quiseram ser identificadas.
A Venezuela também devolveu aos Estados Unidos o fugitivo empresário malaio Leonard Glenn Francis, conhecido como "Fat Leonard", que está envolvido em um caso de suborno da Marinha dos EUA, disseram as autoridades.
O acordo, resultado de meses de negociações mediadas pelo Catar entre a Venezuela, membro da Opep, e os Estados Unidos, ocorreu depois que a Casa Branca disse que precisaria ver progresso na libertação de presos para continuar com o alívio das sanções energéticas para Caracas.
O alívio das sanções foi anunciado em outubro em resposta a um acordo do governo venezuelano para realizar eleições justas em 2024.
Embora as libertações possam ser vistas como uma ação de Maduro para cumprir com as demandas dos EUA, o retorno de Saab é uma vitória para Maduro. Saab ainda não foi condenado e seu retorno à Venezuela era anteriormente visto como improvável.
Os EUA tinham dado ao governo venezuelano um prazo até 30 de novembro para progredir na remoção das proibições de cargos públicos impostas aos candidatos da oposição e começar a libertar presos políticos e norte-americanos "detidos injustamente" a fim de evitar o restabelecimento das sanções.
A Venezuela está permitindo que candidatos da oposição apelem das proibições, mas não havia feito muito progresso na libertação de presos até esta quarta-feira.
Biden disse aos repórteres que viajavam com ele em Milwaukee que ainda não havia conversado com Maduro, mas que "estabelecemos requisitos específicos para uma eleição democrática. Ele concordou com todos eles".
Gonzalo Himiob, advogado do grupo não governamental venezuelano Foro Penal, que regularmente fornece ajuda jurídica para presos políticos, disse na tarde desta quarta que seu grupo havia confirmado que 20 pessoas haviam sido libertadas -- incluindo 15 venezuelanos.
Entre eles estavam seis ativistas da educação, que foram condenados por conspiração no início deste ano e sentenciados a 16 anos, mas que alegavam sua inocência, e o recém-detento Roberto Abdul, membro do comitê que planejou as primárias da oposição.
Espera-se que três pessoas envolvidas com a campanha da candidata da oposição María Corina Machado tenham suas ordens de prisão revogadas, disseram fontes.
Saab, que estava detido em uma prisão federal em Miami, agradeceu a Maduro e ao povo venezuelano em seu retorno ao país nesta quarta.
"Sinto-me orgulhoso de servir ao povo venezuelano e de servir a esse governo leal... que, como eu, nunca se rende", disse Saab ao fazer comentários conjuntamente com Maduro depois de se reunir com sua família na pista do aeroporto.
Maduro disse que a troca marcou um passo em direção a uma nova era de relações diplomáticas com os Estados Unidos.
(Reportagem de Marianna Parraga em Houston, Humeyra Pamuk e Rami Ayyub em Washington, Steve Holland em Milwaukee e Mayela Armas em Caracas; Reportagem adicional de Luc Cohen em Nova York e Vivian Sequera em Caracas)