Lucro da JBS soma R$3,84 bi no 3º tri; companhia aprova dividendos de R$2,2 bi
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A JBS, líder global na produção de carnes, reportou nesta quarta-feira lucro líquido de 3,84 bilhões de reais no terceiro trimestre, aumento de mais de seis vezes na comparação com o mesmo período do ano passado, com impulso dos negócios de aves e suínos no Brasil e nos Estados Unidos.
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O resultado superou por pouco a expectativa de analistas, de acordo com pesquisa da LSEG, que apontava um lucro de 3,73 bilhões de reais.
A empresa também aprovou a distribuição de dividendos de 2,2 bilhões de reais, que deverão ser pagos em 15 de janeiro.
A companhia destacou a unidade de processados e de aves e suínos no Brasil, a Seara, que teve uma margem recorde de 21% no período, beneficiada pela "forte demanda" global e custo "favorável" dos grãos, matéria-prima para a produção de ração na indústria de carnes.
Já a controlada Pilgrim’s Pride apresentou uma margem de 16,9%, impulsionada pela demanda aquecida principalmente na Europa, Estados Unidos e México, que também apresentou melhorias operacionais e a diversificação do portfólio em produtos de valor agregado e marcas, segundo a JBS.
Esse desempenho em aves e suínos mais do que compensou a conjuntura "desafiadora" do segmento de carne bovina nos Estados Unidos, o maior negócio da empresa em vendas, que respondeu por quase um terço da receita líquida total da companhia, mas registrou a menor margem entre as unidades da JBS no terceiro trimestre, de 1,9%.
"Foi um resultado robusto, forte, quando a gente olha a JBS, que tem um negócio grande nos Estados Unidos, e um terço do negócio está no 'break even'... Mesmo assim, estamos entregando um resultado de dois dígitos na margem Ebitda", disse o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, à Reuters.
A JBS relatou que seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado, um indicador da geração de caixa, somou 11,9 bilhões de reais, aumento de 120,7% na comparação com o mesmo período do ano passado e de 20,8% ante o segundo trimestre.
Já a margem Ebitda ajustada da companhia foi de 10,8%, alta de 4,9 pontos percentuais na comparação com igual período de 2023.
A receita líquida no terceiro trimestre somou 110,5 bilhões de reais, crescimento de 21% ante o igual período de 2023, um resultado também recorde.
O fluxo de caixa livre foi positivo em 5,5 bilhões de reais, uma melhora de 88% em relação ao mesmo período do ano anterior.
"Isso mostra a importância da diversificação da plataforma, mas também temos um time extraordinário... isso permite capturar as oportunidades do mercado", afirmou.
"E obviamente tivemos um vento favorável, maior demanda... tivemos os preços dos grãos nos menores patamares dos últimos anos, o que favorece muito os negócios de frangos e suínos", afirmou o executivo, acrescentando que a Seara ainda pode ter suas margens melhoradas no futuro.
Nos EUA, a JBS avalia que o cenário de oferta de gado deve permanecer difícil ao longo de 2025, começando a melhorar em 2026, disse Tomazoni. Já no Brasil a companhia foi beneficiada por custos favoráveis do boi no terceiro trimestre.
"A Friboi se beneficiou de ser ´Top of Mind´, das marcas que ela se desenvolveu... teve a demanda externa... o preço do gado que esteve patamares mais baixos, isso favoreceu tanto a exportação quanto o mercado interno", disse Tomazoni.
Até o final do terceiro trimestre, as cotações mais baixas da arroba bovina no Brasil, maior exportador global de carne bovina, ajudaram a unidade Friboi, que registrou margem de 11,6%, um nível também histórico.
Por outro lado, houve uma disparada recentemente nos custos do boi, em meio à forte demanda na exportação e no consumo interno de carne.
Desde o início de outubro, o preço da arroba bovina no mercado do Estado de São Paulo subiu mais de 22%, para uma média de 335,15 reais, em meio a exportações recordes mensais do Brasil, segundo dados do centro de estudos Cepea, da Esalq/USP.
"Achamos que o boi tinha caído demais, isso desincentiva a produção, agora também achamos que subiu demais. Na nossa visão, tem espaço para ele (preço) voltar, não voltar aos patamares do início do ano, mas tem espaço para voltar", afirmou.
Ele observou que no mercado externo o Brasil "tem espaço para repassar esse custos" do gado, em momento em que a demanda está firme na China e nos Estados Unidos, entre outros mercados. "Mas o mercado interno está muito desafiado (pelos preços mais altos), toda aquela demanda que cresceu, nesses níveis que está (o preço), ela fica desafiada."
EFEITO TRUMP E LISTAGEM NOS EUA
Questionado sobre como avalia a eleição de Donald Trump e se alguma plataforma da JBS poderia ser beneficiada por eventual guerra comercial envolvendo tarifas da China para a produção dos EUA, Tomazoni evitou fazer conjecturas.
"A gente foca nas coisas que controla... a gente foca em ser eficiente... em estar com as pessoas preparadas para poder arbitrar as oportunidades do mercado. Nós estamos em todas as plataformas, estamos nos EUA, na Austrália, no Brasil, no Canadá... é difícil ficar especulando o que vai acontecer."
"Dependendo do que vier acontecer, vamos usar da melhor forma a nossa plataforma."
Questionado sobre a listagem de ações nos EUA, Tomazoni disse que segue sendo prioridade para "destravar" valor da empresa.
Já o CFO da JBS, Guilherme Cavalcanti, adicionou que, antes de retomar os "filings" sobre o processo da listagem, a empresa está em processo final de registrar um "bond" no regulador de mercados norte-americano (SEC).
"Estamos com dois processos em paralelo, em setembro de 2023 emitimos 2,5 bilhões de dólares de 'bonds', e estamos em processo de registrar na SEC. Todos os outros já estão registrados na SEC, faltava este último. Temos de esperar o 'exchange offer' dos 'bonds', que termina ao final de novembro, aí vamos voltar a fazer os 'filings' para a listagem das ações", explicou.
A JBS afirmou que, no terceiro trimestre, antecipou a desalavancagem projetada para o fim do ano.
Entre o segundo trimestre e o terceiro a alavancagem em dólar caiu de 2,77 vezes para 2,15 vezes (dívida líquida/Ebitda). A dívida líquida da empresa ficou em 13,7 bilhões de dólares, sendo reduzida em 1 bilhão de dólares.
(Por Roberto Samora; com reportagem adicional de André Romani)