Parlamentares da Geórgia elegem duro crítico do Ocidente como novo presidente
Por Felix Light
TBILISI (Reuters) - Parlamentares da Geórgia elegeram Mikheil Kavelashvili, um duro crítico do Ocidente, como o novo presidente do país neste sábado, posicionando-o para substituir a incumbente pró-Ocidente em meio a grandes protestos contra o governo pela paralisação das negociações de adesão à União Europeia no mês passado.
A decisão do partido governista Sonho Georgiano de congelar o processo de acesso à UE até 2028, interrompendo abruptamente um objetivo nacional de longa data incluído na constituição do país, provocou uma reação generalizada de raiva na Geórgia, onde, segundo as pesquisas de opinião, a adesão à UE é esmagadoramente popular.
Kavelashvili, ex-jogador profissional de futebol, tem opiniões contundentes antiocidente, muitas vezes conspiratórias. Em discursos públicos neste ano, repetiu alegações de que agências de inteligência ocidentais estão tentando empurrar a Geórgia a uma guerra com a Rússia, que governou o país por 200 anos até 1991.
Centenas de manifestantes se reuniram debaixo de uma leve nevasca no lado de fora do parlamento antes da votação presidencial. Alguns jogaram futebol nas ruas e mostraram cartões vermelhos para o prédio do parlamento, uma referência zombeteira à carreira esportiva de Kavelashvili.
O manifestante Vezi Kokhodze disse que a votação foi uma “traição” contra o, segundo ele, desejo dos georgianos de se integrarem ao Ocidente.
“A eleição de hoje (sábado) representa o desejo claro do sistema de devolver a Geórgia às suas raízes soviéticas”, afirmou.
Os presidentes da Geórgia são escolhidos por um colégio composto por parlamentares e representantes de governos locais. Dos 225 eleitores presentes, 224 votaram por Kavelashvili, o único candidato que havia sido indicado.
Todos os partidos de oposição boicotam o parlamento desde uma eleição em outubro, na qual os resultados oficiais deram ao Sonho Georgiano quase 54% dos votos, mas que, segundo a oposição, foi fraudulenta.
Kavelashvili foi nomeado para a Presidência, um cargo majoritariamente cerimonial, no mês passado por Bidzina Ivanishvili, um ex-primeiro-ministro bilionário que é considerado amplamente como o principal líder do país e que se mexeu para aprofundar laços com a vizinha Rússia, que, de acordo com as pesquisas, muitos georgianos não gostam.
Kavelashvili é um líder do Poder Popular, um grupo dissidente antiocidental do partido governista, e foi o coautor de uma lei sobre “agentes estrangeiros”, que exige que as organizações que recebem mais de 20% do seu financiamento do exterior sejam registradas como agentes de influência estrangeira e impõe multas pesadas por violações.
A presidente Salome Zourabichvili, uma crítica do partido governista Sonho Georgiano e pró-União Europeia, se posicionou como a líder do movimento de protestos e disse que permanecerá como presidente após o fim do seu mandato. Ela considera o parlamento ilegítimo, um resultado da suposta fraude das eleições de outubro.
Em uma publicação no X antes da votação, Zourabichvili disse que a eleição do seu sucessor representava uma “zombaria da democracia”.
Partidos de oposição disseram que continuarão considerando Zourabichvili a presidente legítima, mesmo depois da posse de Kavelashvili em 29 de dezembro.
Em um briefing após a votação, o primeiro-ministro Irakli Kobakhidze parabenizou Kavelashvili e se referiu à presidente que está deixando o cargo como uma “agente” de potências estrangeiras não especificadas.
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