Trump não descarta possibilidade de usar força para tomar Canal do Panamá e Groenlândia
Por Steve Holland e Joseph Ax
PALM BEACH, Estados Unidos (Reuters) - O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, recusou-se nesta terça-feira a descartar o uso de ações militares ou econômicas para buscar a aquisição do Canal do Panamá e da Groenlândia, parte de uma agenda expansionista mais ampla que ele promoveu desde que venceu a eleição de 5 de novembro.
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Trump, que assumirá o cargo em 20 de janeiro, também lançou a ideia de transformar o Canadá em um Estado dos EUA e, disse que exigirã gastos de defesa muito maiores dos aliados da Otan. O bilionário futuro presidente dos EUA também prometeu mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América.
A duas semanas de assumir o cargo, Trump começou a delinear uma política externa agressiva com pouca preocupação pelas considerações diplomáticas ou sobre os aliados dos EUA.
Perguntado em uma entrevista coletiva à imprensa em seu resort na Flórida se ele poderia garantir ao mundo que não usaria coerção militar ou econômica ao tentar obter o controle do Canal do Panamá e da Groenlândia, Trump disse: "Não, não posso garantir nada sobre nenhum desses dois. Mas posso dizer o seguinte: precisamos deles para a segurança econômica."
Trump criticou os gastos norte-americanos com produtos canadenses e o apoio militar ao Canadá, dizendo que os EUA não obtêm nenhum benefício com isso, e chamou a fronteira entre os dois países de "linha traçada artificialmente".
Ele sugeriu que vai impor tarifas à Dinamarca se ela resistir à sua oferta de comprar a Groenlândia, que, segundo ele, é vital para a segurança nacional dos EUA. Pouco antes dos comentários de Trump, seu filho Don Jr. chegou à Groenlândia para uma visita particular.
A Dinamarca disse que a Groenlândia, uma parte autônoma de seu reino, não está à venda.
"Não acho que seja um bom caminho lutar uns contra os outros com meios financeiros quando somos aliados e parceiros próximos", disse a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, na noite desta terça-feira, em resposta aos comentários de Trump.
CANADÁ DIZ: "NUNCA RECUAREMOS"
A ministra das Relações Exteriores do Canadá, Melanie Joly, disse no X: "Os comentários do presidente eleito Trump mostram uma completa falta de compreensão do que faz do Canadá um país forte. Nossa economia é forte. Nosso povo é forte. Nunca recuaremos diante de ameaças."
O principal diplomata do Panamá também rebateu a ameaça do novo líder dos EUA de retomar a principal hidrovia global, que os EUA construíram e possuíam antes de entregar o controle à nação centro-americana em 1999.
"As únicas mãos que controlam o canal são as panamenhas e é assim que continuará a ser", disse o ministro das Relações Exteriores, Javier Martinez-Acha, nesta terça-feira.
O embaixador Daniel Fried, diplomata aposentado dos EUA, atualmente no think tank Atlantic Council, disse que os comentários de Trump pintaram uma imagem do poder nacional como expansão territorial e o comparou a um "imperialista do século XIX".
A tomada da Groenlândia, disse Fried, "destruiria a Otan, porque nos tornaria iguais a Vladimir Putin", presidente da Rússia.
A promessa de Trump de mudar o nome do Golfo do México ecoou sua promessa anterior de reverter o nome de Denali, o pico mais alto da América do Norte, para Monte McKinley. O ex-presidente Barack Obama mudou o nome da montanha do Alasca em deferência aos nativos americanos.
O Ministro da Economia do México, Marcelo Ebrard, que deverá desempenhar um papel fundamental nas questões comerciais iminentes entre os EUA e o México, pareceu rejeitar o pedido de Trump para renomear o corpo de água compartilhado na terça-feira.
"Hoje eu lhe diria que, se nos encontrarmos daqui a 30 anos, o Golfo do México ainda será chamado de Golfo do México", disse ele, acrescentando que o governo mexicano não se envolverá no debate.
Normalmente, o Conselho de Nomes Geográficos dos EUA define os nomes geográficos, embora os presidentes também tenham renomeado características geográficas por meio de ação executiva.
GASTOS DA OTAN
Trump disse que os membros da Otan devem gastar 5% de seu produto interno bruto em defesa, um aumento significativo em relação à meta atual de 2%.
"Acho que a Otan deveria ter 5%", disse ele. "Todos eles podem arcar com isso, mas deveriam ter 5%, não 2%."
Trump tem se queixado com frequência de que a maioria dos membros da Otan não está pagando sua parte justa e, durante a campanha, ele sugeriu exigir um aumento nas contribuições de defesa da Otan.
A Otan estimou que 23 de seus 32 membros atingiriam a meta de gastar 2% do PIB em 2024.
Nenhum dos membros da aliança, incluindo os EUA, gasta atualmente 5% do PIB em questões militares, de acordo com os números da Otan. A Polônia é o país que mais gasta em termos de PIB, com 4,12%, seguida pela Estônia, com 3,43%, e pelos Estados Unidos, com 3,38%.
Trump também repetiu ameaça de que "o inferno vai explodir no Oriente Médio" se os militantes do Hamas não libertarem, quando ele assumir o cargo, os reféns sequestrados de Israel em 7 de outubro de 2023.
"Isso não será bom para o Hamas e, francamente, não será bom para ninguém", disse ele.
O enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, disse a jornalistas que espera ter coisas boas para relatar sobre as negociações entre Israel e o Hamas até a posse de Trump.
QUEIXAS FAMILIARES
A entrevista coletiva de imprensa descontraída, com uma hora de duração, a segunda de Trump desde a vitória, ecoou eventos semelhantes durante a campanha presidencial do republicano.
Trump apresentou uma série de queixas conhecidas sobre suas acusações criminais, incluindo o ataque ao juiz Juan Merchan, o juiz de Nova York que deverá sentenciar Trump na sexta-feira por falsificar registros comerciais em conexão com pagamentos de dinheiro a uma estrela pornô para silenciá-la.
Um tribunal de recursos de Nova York negou uma tentativa de Trump de suspender a sentença logo após o término da coletiva de imprensa desta terça-feira.
Separadamente, enquanto Trump falava, um juiz dos EUA impediu temporariamente que o advogado especial Jack Smith divulgasse um relatório sobre suas investigações sobre o suposto manuseio indevido de documentos confidenciais por Trump e tentativas de anular a eleição presidencial de 2020.
A juíza, Aileen Cannon, já havia rejeitado o caso que acusava Trump de reter ilegalmente materiais confidenciais após deixar o cargo.
Trump também foi questionado se era apropriado que Elon Musk se manifestasse publicamente sobre assuntos estrangeiros. Nas últimas semanas, o bilionário aliado de Trump usou sua rede social X para comentar sobre a política europeia, inclusive expressando apoio ao partido de alemão de extrema-direita Alternativa para a Alemanha.
"Posso dizer que Elon está fazendo um bom trabalho, um cara muito inteligente", disse Trump. "Não conheço as pessoas de quem você está falando."