'Piores 10 dias da minha vida', diz contratado da Usaid após cortes de Trump

A revisão da assistência externa dos Estados Unidos feita pelo presidente Donald Trump levou caos ao campo da ajuda e do desenvolvimento, deixando centenas de contratadas em uma grave crise financeira, com algumas já tendo que demitir funcionários e outras enfrentando milhões de dólares em faturas não pagas.

Horas depois de assumir o cargo em 20 de janeiro, Trump ordenou uma ampla revisão de quase toda a ajuda externa dos EUA e encarregou o bilionário Elon Musk, que acusou falsamente a Usaid de ser uma organização "criminosa", de reduzir a agência.

Nesta terça-feira (4), um memorando interno da agência anunciou que todas as pessoas contratadas diretamente por eles serão colocadas em licença remunerada a partir da noite da próxima sexta-feira (7), com exceção de funcionários responsáveis "por funções essenciais à missão, liderança central e programas especialmente designados". O aviso também foi publicado no site da agência.

Os funcionários que estão em missão fora dos EUA deverão retornar ao país, com os custos da viagem cobertos pela agência. Além disso, o governo dos EUA informou que irá encerrar contratos considerados não essenciais das modalidades PSC (Personal Services Contract, um tipo de contratação temporária, em que o profissional não é servidor público) e ISC (Institutional Support Contract, que equivale à terceirização de serviços por meio de empresas contratadas).

Funcionários em pânico

Desde a posse de Trump, dezenas de funcionários da Usaid foram colocados em licença, centenas de prestadores de serviços internos foram demitidos, enquanto os chamados funcionários do Departamento de Eficiência Governamental de Musk destruíam a agência que é o principal braço humanitário de Washington, fornecendo bilhões de dólares em ajuda em todo o mundo.

As ordens gerais de interrupção do trabalho emitidas pelo Departamento de Estado deixaram o setor de ajuda humanitária em pânico, tanto no país quanto no exterior, pois as contratadas geralmente assumem os custos e depois cobram do governo dos EUA.

Para Steve Schmida, cofundador da Resonance, sediada em Vermont, uma terceirizada da Usaid que há muitos anos trabalha em áreas como inovação, conservação da pesca e comércio e investimento, a questão se tornou "existencial" após as ordens de interrupção do trabalho.

"Tínhamos milhões de dólares em faturas a serem pagas, que haviam sido aprovadas por nossos clientes no governo dos EUA... Entendemos rapidamente que essa era uma séria ameaça aos nossos negócios", disse Schmida.

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Ele começou a demitir e colocar de licença dezenas de funcionários, pois calculou que cerca de 90% de sua receita estava prestes a desaparecer.

"Os últimos 10 dias foram os piores 10 dias da minha vida profissional", afirmou Schmida. O financiamento de alguns de seus projetos foi concedido durante o primeiro governo Trump.

Uma autoridade de um parceiro de implementação da Usaid, que falou sob condição de anonimato devido ao medo de represálias, disse que a empresa teve de dispensar centenas de funcionários baseados nos EUA e que o governo dos EUA lhe devia mais de 50 milhões de dólares em faturas vencidas de novembro e dezembro.

Tanto a autoridade quanto Schmida disseram que talvez tenham que entrar na justiça por causa dos saldos pendentes.

Confiança frustrada

Muitos dos funcionários e prestadores de serviços da Usaid expressaram choque com a rapidez com que o governo agiu para demitir pessoas e apenas alguns dias antes de seus benefícios e seguro-saúde expirarem.

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Rose Zulliger, que trabalhou para a President's Malaria Initiative como consultora técnica sênior de malária enquanto era contratada da Usaid, foi uma delas. Ela foi demitida na semana passada com efeito imediato e seus benefícios foram encerrados alguns dias depois, o que a deixou em apuros para encontrar um seguro antes da amigdalectomia programada para sua filha em três semanas.

"Não se trata apenas do estresse pessoal de ter perdido meu emprego... É também a realidade de que a saúde global como a conhecemos e o trabalho que fazemos — salvar vidas e também proteger os americanos — foram colocados em pausa, e a confiança e os relacionamentos pelos quais trabalhamos tão arduamente, que são tão essenciais para a influência dos EUA na esfera global, foram todos rompidos", disse Zulliger.

No ano fiscal de 2023, os Estados Unidos desembolsaram 72 bilhões de dólares em ajuda mundial para tudo, desde a saúde das mulheres em zonas de conflito até o acesso à água potável, tratamentos de HIV/AIDS, segurança energética e trabalho anticorrupção. O país forneceu 42% de toda ajuda humanitária monitorada pelas Nações Unidas em 2024.

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