Assessores de Trump defendem proposta para assumir Gaza, mas recuam em alguns elementos
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Por Jeff Mason e Matt Spetalnick e Steve Holland e Nidal al-Mughrabi
WASHINGTON/CAIRO (Reuters) - Os principais assessores do presidente norte-americano, Donald Trump, defenderam com firmeza sua iniciativa de transferir os palestinos para fora de Gaza e fazer com que os EUA assumam o enclave destruído pela guerra, mas também recuaram em alguns elementos de sua proposta, diante de condenações internacionais.
Veterano incorporador imobiliário de Nova York, Trump foi criticado nesta quarta-feira pelas potências mundiais Rússia, China e Alemanha, que disseram que isso promoveria "novo sofrimento e novo ódio". Peso pesado na região, a Arábia Saudita rejeitou a proposta de imediato.
Há apenas duas semanas no cargo, Trump destruiu décadas de políticas dos EUA na última terça-feira com um anúncio vagamente formulado, dizendo que imaginava transformar Gaza na "Riviera do Oriente Médio", onde comunidades internacionais poderiam viver em harmonia após quase 16 meses de bombardeio israelense devastarem o enclave costeiro e matarem mais de 47.000 pessoas, de acordo com os registros palestinos.
Em um briefing na Casa Branca nesta quarta-feira, sua secretária de imprensa, Karoline Leavitt, saudou a proposta para Gaza como um pensamento "histórico" e "fora da caixa", mas enfatizou que o presidente não se comprometeu a colocar "botas no solo" no enclave palestino. No entanto, ela se recusou a descartar a possibilidade de uso de tropas norte-americanas.
Ao mesmo tempo, Leavitt recuou na afirmação anterior de Trump de que os moradores de Gaza precisavam ser permanentemente reassentados em países vizinhos, dizendo, em vez disso, que eles deveriam ser "temporariamente realocados" para o processo de reconstrução.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, também disse que a ideia era que os habitantes de Gaza deixassem o território por um período "provisório" para a reconstrução e remoção de escombros.
Não ficou claro se Trump levaria adiante sua proposta ou se estava simplesmente assumindo uma posição extrema como estratégia de barganha, como já fez em outras questões no passado.
No ano passado, o genro e ex-assessor de Trump, Jared Kushner, descreveu Gaza como uma propriedade "valiosa" à beira-mar e, na última terça-feira, Trump fez afirmações semelhantes ao pedir o reassentamento permanente de mais de 2 milhões de palestinos de lá.
Alguns especialistas afirmaram que as ações propostas poderiam violar leis internacionais. Outros descreveram suas ideias como impraticáveis. Defensores dos direitos humanos disseram que equivaleria a uma limpeza étnica.
"Todo mundo adora", disse Trump, a repórteres no Salão Oval nesta quarta-feira, referindo-se à sua ideia para Gaza.
Os pronunciamentos de Trump, no entanto, parecem contrariar a opinião pública dos EUA, que, segundo as pesquisas, se opõe de forma esmagadora a novos envolvimentos em zonas de conflito após longas intervenções militares no Iraque e no Afeganistão.
Trump afirmou com frequência durante a campanha eleitoral de 2024 e desde que retornou ao cargo que acabaria com o que chamou de guerras "ridículas" e impediria que outras começassem.
Em uma viagem à Guatemala, Rubio, aparentemente tentando rebater a onda de críticas globais, insistiu que a proposta de Trump não era um "movimento hostil", mas generoso, que expressava "a disposição dos Estados Unidos de se tornarem responsáveis pela reconstrução daquela área".
Ao mesmo tempo, Leavitt disse que os contribuintes norte-americanos não pagariam a conta e que Trump faria um acordo com parceiros regionais.
Trump não ofereceu detalhes específicos ao anunciar sua proposta enquanto recebia o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca na terça-feira. Ele disse que ele e sua equipe estavam discutindo a possibilidade com Jordânia, Egito e outros países da região.
"TRUMP PODE IR PARA O INFERNO"
Netanyahu, que se reuniu nesta quarta-feira com o vice-presidente dos EUA, JD Vance, não quis discutir a proposta, a não ser para elogiar Trump por tentar uma nova abordagem.
Mas Leavitt, que a descreveu como "algo que o presidente vem socializando e pensando há algum tempo", disse que Trump contou a Netanyahu com antecedência o que ele anunciaria na terça-feira.
O rei Abdullah da Jordânia disse nesta quarta-feira que rejeita qualquer movimento para anexar terras e deslocar palestinos. O Egito disse que apoiaria os planos de recuperação de Gaza, seguindo um cessar-fogo que entrou em vigor em 19 de janeiro, sem que os palestinos deixassem o território.
Em Gaza, os palestinos que vivem entre os destroços de suas antigas casas disseram que nunca aceitariam a ideia.
"Trump pode ir para o inferno, com suas ideias, com seu dinheiro e com suas crenças. Nós não vamos a lugar nenhum. Não somos alguns de seus bens", disse Samir Abu Basel, pai de cinco filhos na Cidade de Gaza, desalojado de sua casa pela guerra.
Líderes mundiais disseram que continuam apoiando a solução de dois Estados, que formou a base da política dos EUA para a região durante décadas, sustentando que Gaza faria parte de um futuro Estado palestino que incluiria a Cisjordânia, ocupada por Israel.
O assessor de segurança nacional dos EUA, Mike Waltz, minimizou nesta quarta-feira qualquer noção de que os EUA estivessem abandonando a política de longa data para o Oriente Médio. "Eu certamente não ouvi o presidente dizer que era o fim da solução de dois Estados", disse, à CBS News.
"RIDÍCULO E ABSURDO"
Uma autoridade do grupo militante palestino Hamas, que governava a Faixa de Gaza antes da guerra que se seguiu ao mortal ataque transfronteiriço do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, disse que a proposta de Trump é "ridícula e absurda".
"Quaisquer ideias desse tipo são capazes de inflamar a região", disse Sami Abu Zuhri à Reuters, dizendo que o Hamas continua comprometido com o acordo de cessar-fogo com Israel e negociando sua próxima fase.
(Reportagem de Nidal al-Mughrabi; reportagens adicionais de Simon Lewis na Cidade da Guatemala, Colleen Howe, Gleb Stolyarov e Mark Trevelyan)
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