Após morte do papa Francisco, foco se volta para cardeais que escolherão seu sucessor
Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - Com a morte do papa Francisco, anunciada pelo Vaticano nesta segunda-feira, os católicos romanos de todo o mundo começarão a especular sobre quem, entre os cardeais de vestes vermelhas, o sucederá.
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Dada a natureza das nomeações de cardeais feitas por Francisco durante seu papado, haverá inevitavelmente alguma expectativa de que o sucessor do pontífice argentino seja outro não europeu e que, assim como Francisco, ele possa ser outro progressista, oposto à ala conservadora da Igreja.
No entanto, o processo de eleição que ocorrerá depois que Francisco for enterrado é altamente secreto e nada será certo até que a fumaça branca que sai da chaminé da Capela Sistina diga ao mundo que um novo papa foi escolhido.
Os cardeais são os colaboradores mais próximos do pontífice, dirigindo os principais departamentos do Vaticano e das dioceses em todo o mundo. Quando um papa morre ou renuncia, os cardeais com menos de 80 anos de idade podem participar de um conclave secreto para escolher entre si o novo chefe da Igreja Católica Romana de quase 1,4 bilhão de membros.
A complexa votação revelará se os cardeais atuais, a maioria deles colocada lá por Francisco, acreditam que sua adoção de valores sociais liberais e sua agenda de reformas progressistas foram longe demais e se é necessário um período de contenção.
Os cardeais definirão a data para o início do conclave depois que começarem a chegar a Roma nos próximos dias.
Somente um papa pode nomear cardeais e o tipo de homem que ele escolhe pode deixar sua marca na Igreja muito depois de seu reinado -- devido ao seu status como clérigos seniores e porque um deles pode acabar se tornando pontífice.
Em 21 de abril, havia um total de 252 cardeais, 135 dos quais eram cardeais eleitores com menos de 80 anos, de acordo com dados publicados pelo Vaticano. Dos cardeais eleitores, 108 foram nomeados por Francisco, 22 por seu antecessor, Bento 16, e cinco por João Paulo 2º.
Os cardeais são "criados" em cerimônias chamadas consistórios, nas quais recebem seu anel, uma bireta vermelha -- um boné quadrado -- e juram lealdade ao papa, mesmo que isso signifique derramar sangue ou sacrificar suas vidas, como indica a cor vermelha.
O papa Francisco realizou 10 consistórios e, com cada um deles, aumentou as chances de que seu sucessor seja outro não europeu, tendo reforçado a Igreja em lugares onde ela é uma minoria minúscula ou onde está crescendo mais rapidamente do que no Ocidente, em sua maior parte estagnado.
Durante muitos séculos, a maioria dos cardeais era italiana, com exceção de um período em que o papado estava sediado em Avignon, entre 1309-1377, quando muitos eram franceses.
A internacionalização do Colégio de Cardeais começou de fato com Paulo 6º (1963-1978). Ela foi bastante acelerada por João Paulo 2º (1978-2005), um polonês que foi o primeiro papa não italiano em 455 anos.
Embora a Europa ainda tenha a maior parcela de cardeais eleitores, com cerca de 39%, ela caiu em relação aos 52% de 2013, quando Francisco se tornou o primeiro papa latino-americano. O segundo maior grupo de eleitores é da Ásia e da Oceania, com cerca de 20%.
UM GRUPO MENOS EUROCÊNTRICO
Francisco nomeou mais de 20 cardeais de países que nunca tiveram um cardeal, quase todos de países em desenvolvimento, como Ruanda, Cabo Verde, Tonga, Mianmar, Mongólia e Sudão do Sul, ou de países com pouquíssimos católicos, como a Suécia.
Em alguns casos, ele repetidamente ignorou vagas em grandes cidades europeias que tradicionalmente tinham cardeais, para enfatizar que a Igreja não poderia ser tão eurocêntrica.
Em outros lugares, como nos Estados Unidos, ele ignorou dioceses como Los Angeles e San Francisco, aparentemente porque elas tinham arcebispos conservadores.
Robert McElroy, arcebispo de Washington desde março, é visto como um aliado progressista e franco da abordagem pastoral de Francisco em relação às questões sociais, como a proteção do meio ambiente e uma abordagem mais acolhedora para os católicos LGBTQ.
O LEGADO DE UM PAPA
Quanto mais cardeais um papa nomeia durante seu reinado, também aumenta a possibilidade de que seu sucessor seja alguém que tenha opiniões semelhantes sobre a Igreja e as questões sociais.
Entretanto, nem sempre é esse o caso, pois os cardeais podem escolher uma pessoa teologicamente diferente de seu antecessor, mas considerada o melhor candidato por motivos internos da Igreja ou pelo momento histórico em que a eleição ocorre.
O papa Bento 16 foi escolhido para suceder o papa João Paulo 2º em parte porque Bento 16 havia trabalhado com João Paulo por duas décadas e os cardeais queriam continuidade.
Mas muitos dos mesmos cardeais sentiram que era necessário um "forasteiro" para suceder Bento, que renunciou em 2013, depois que o escândalo "Vatileaks" expôs uma administração central disfuncional, grande parte dela supervisionada por prelados italianos.
Ao mesmo tempo, muitos cardeais sentiram claramente que o futuro do catolicismo estava além da envelhecida Europa, por isso escolheram o argentino Jorge Mario Bergoglio como pontífice -- o primeiro papa não europeu em quase 13 séculos.
Embora os cardeais que completaram 80 anos não possam participar do conclave, eles ainda podem afetar seu resultado. Eles têm permissão para participar de reuniões conhecidas como Congregações Gerais, que ocorrem nos dias anteriores ao início do conclave e nas quais se forma um perfil das qualidades necessárias para o próximo papa.
(Reportagem de Philip Pullella e Joshua McElwee)