Líder da extrema direita de Portugal é investigado por comentários contra ciganos

Promotores portugueses abriram uma investigação sobre os comentários feitos pelo líder de extrema direita André Ventura contra a comunidade cigana, três dias depois de uma eleição em que seu partido Chega cresceu e ficou empatado em segundo lugar no Parlamento.
O Ministério Público disse nesta quarta-feira que abriu a investigação após receber uma denúncia contra Ventura. Ele não deu mais detalhes.
O grupo sem fins lucrativos Letras Nomadas, que promove empregos e educação para a comunidade cigana, disse que era uma das 10 associações por trás da queixa, que foi feita por considerarem os vídeos online pré-eleitorais publicados por Ventura como uma incitação ao ódio.
Os ciganos são a maior minoria étnica da Europa e têm um longo histórico de exclusão social e discriminação.
Em um dos vídeos, Ventura criticou os municípios que, segundo ele, estavam construindo moradias sociais especificamente para os ciganos, perguntando: "Mas por que estamos construindo casas para ciganos? Estamos construindo para pessoas normais?"
"Esse vídeo foi o mais ofensivo para nós, embora os outros também fossem bastante sérios", disse Bruno Gonçalves, vice-presidente da Letras Nomadas.
"Ventura chegou a dizer no vídeo que provavelmente receberia reclamações por causa daquela declaração. Ele sabia que estava passando dos limites."
As autoridades do Chega não tiveram nenhuma reação imediata à investigação.
Ventura é um pós-graduado em direito que já treinou para ser padre, mas que fez seu nome como comentarista esportivo de TV. Ele ganhou notoriedade em 2018 com comentários incendiários contra os ciganos.
Em 2019, fundou o partido antiestablishment Chega, defendendo penas mais duras para criminosos, pedindo o fim da política de imigração de "portas abertas" de Portugal e acusando os partidos políticos tradicionais de perpetuarem a corrupção.
O Chega tornou-se a terceira maior força parlamentar em 2022, quadruplicou seus assentos parlamentares no ano passado para 50 e acrescentou pelo menos oito assentos na eleição de domingo, com votos do exterior ainda a serem contados e quatro assentos a serem atribuídos.
Esses votos podem tornar o Chega o principal partido de oposição à Aliança Democrática (AD), de centro-direita, do primeiro-ministro Luis Montenegro.
A AD conquistou 89 cadeiras, mais do que na eleição anterior, mas sem maioria parlamentar.
Montenegro tem se recusado a fazer qualquer acordo com o Chega.
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