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Reformista e "imperial", Macron completa um ano no poder na França

 Emmanuel Macron - FRANCOIS GUILLOT/AFP
Emmanuel Macron Imagem: FRANCOIS GUILLOT/AFP

06/05/2018 14h50

Há um ano, em 7 de maio, tomava posse o mais jovem presidente da história da França.

A própria cerimônia da vitória das eleições de 2017 deu o tom do governo que estava por vir: Macron escolheu a esplanada do Museu do Louvre como palco para imortalizar o seu primeiro discurso como presidente eleito. Desde então, abusou das decorações suntuosas da França para receber chefes de Estado: reservou o castelo de Versalhes para Vladimir Putin e a Torre Eiffel para Donald Trump.

A mise em scène, aliada à biografia impressionante do menino prodígio e a velocidade com que tem conseguido implementar reformas polêmicas, logo trouxe seus frutos. Com seu movimento República em Marcha, o ex-ministro da Economia, que se reivindica nem de esquerda, nem de direita, acabou por implodir os partidos tradicionais, o Socialista e Os Republicanos. Macron se tornou fonte de inspiração nos tantos países que sonham em refundar a política ao redor do globo. No plano interno, os projetos são tantos que os franceses têm dificuldades de acompanhar o ritmo do presidente.

Ao mesmo tempo em que explora cenários majestosos, no método de ação, o chefe de Estado lançou mão de uma ferramenta pouco usual na política francesa – o governo por decretos, em um modelo vertical de exercer o poder. Em vez de passar por longos debates no Parlamento, os projetos são negociados por antecipação com as categorias envolvidas e o texto final é submetido à aprovação ou à rejeição dos senadores e deputados. Com uma ampla maioria no Parlamento, foi com facilidade que ele aprovou uma reforma trabalhista, outra tributária e mudanças na folha de pagamentos, todas de cunho social-liberal.

“Macron Napoleão”

Não demorou para Macron ser acusado de antidemocrático, centralizador e “imperial”, características que a população francesa, contestadora, tem dificuldades de engolir. Não à toa, para “comemorar” o primeiro aniversário do presidente no cargo, milhares de manifestantes foram às ruas neste sábado (5) criticar o “Macron Napoleão” e o “Macron Júpiter” que ocupa o palácio do Eliseu.

As pesquisas de opinião mostram que o presidente mantém a confiança dos franceses, mas o estado de graça do primeiro ano de governo começa a se esgotar. Na sondagem mais recente, do instituto Ipsos, 45% dos franceses avaliaram que ele fez um primeiro ano de governo "positivo" e, para 53%, o balanço é negativo. Entre os eleitores do presidente nas eleições do ano passado, 68% estão satisfeitos até agora. De uma forma geral, 55% julgam Macron autoritário demais.

“45% de aprovação parece pouco, mas é um bom resultado, não apenas pelo número em si como na comparação com outros presidentes antes dele, no mesmo período”, ponderou Brice Teinturier, diretor-geral do instituto, ao jornal Le Monde, que encomendou a pesquisa. “Vimos que algumas reformas impactaram positivamente a imagem do presidente, como a da SNCF [companhia ferroviária nacional], apesar dos protestos e greves dos ferroviários, e a reforma do imposto predial, que aliviou o peso fiscal para uma parte considerável de franceses. Além disso, medidas como a proibição do agrotóxico glifosato na França foram bem vistas”, comentou.

Presidente dos ricos

Tenturier ressalta que, para 73% da população, Macron está cumprindo o que prometeu na campanha, uma qualidade não reconhecida nos presidentes anteriores. Porém, nem todas as reformas passaram batido, em especial o fim do imposto sobre a fortuna, a diminuição do benefício social para moradias e a redução de um tributo que incide no poder aquisitivo dos aposentados. “76% dos franceses acham que a política econômica é orientada para favorecer os mais ricos e moradores das grandes cidades”, observa. Macron, presidente dos ricos, é um aposto que começa a colar no líder francês.

Para impedir que a popularidade não despenque nos próximos anos, o centrista terá de equilibrar melhor a política social em seu governo, considerada de direita, e se aproximar dos franceses. Outra pesquisa divulgada na quinta-feira, da Odoxa-Dentsu Consulting, mostrou que 76% da população o acha arrogante e 68% o vê como um governante distante das pessoas. A sondagem ainda alerta que 59% da população não deseja que ele concorra à reeleição – se serve de consolação, François Hollande amargou uma rejeição de 77% ao fim do primeiro ano de mandato.