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Macri define aliança com o Brasil como a "grande aposta" dos argentinos

19/07/2018 07h00

Enquanto começa a aplicar duros cortes para cumprir com as metas do FMI, o presidente  Mauricio Macri tenta dar esperança aos argentinos e diz "esperar novidades nas negociações com a União Europeia nos próximos dias".

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires.

 

Antecipando-se à chegada da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, quem estará no próximo sábado aqui em Buenos Aires, o presidente Mauricio Macri procurou gerar a expectativa de um futuro melhor aos argentinos em meio a uma drástica queda na sua popularidade e a uma percepção social negativa sobre o seu governo. Macri quer evitar que a oposição ocupe o centro do cenário político.

Em entrevista coletiva aos jornalistas na residência presidencial de Olivos, o presidente repetiu incansavelmente a palavra "futuro" e anunciou que, no ano que vem -ano eleitoral-, o país vai retomar o caminho do crescimento depois de atravessar 2018 com uma queda na atividade econômica iniciada em maio.

"O crescimento que vínhamos tendo vai diminuir, mas vamos retomá-lo no ano que vem", garantiu. De uma previsão de 3,5% de crescimento no começo do ano, os cálculos apontam agora a ínfimos 0,4%.

Acordo Mercosul-UE está "travado"

Para esse crescimento, disse Macri, a grande aposta são as exportações. O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia que ajudaria nessa receita de crescimento está "travado", admitiu Macri. Mas, ao mesmo tempo, o presidente revelou que, em relação às negociações entre os dois blocos, "espera novidades nos próximos dias".

Questionado sobre as incertezas políticas e econômicas do Brasil, Macri disse que "os argentinos apostam mais do que nunca na aliança com o Brasil". E definiu essa aliança como "um caminho ao progresso".

O presidente argentino considera que o país enfrenta uma tempestade, mas que a crise não será como no passado. A referência de Macri é ao colapso de 2001, quando houve uma corrida bancária maciça para retirar os depósitos, o maior temor do governo nas primeiras semanas de maio passado.

A desvalorização do peso ronda os 40%, a inflação acumulada no primeiro semestre já chega a 16% e começam agora os fortes cortes para cumprir com o FMI na meta de redução do déficit fiscal a 1,3% do PIB.

"Espero e acredito que haverá um nível de responsabilidade inédito na história do nosso país", disse Macri em relação às negociações com governadores e legisladores da oposição para aprovarem o orçamento de 2019, onde haverá cortes exigidos pelo FMI.

A aposta agora nas exportações e já não tanto nos investimentos, como repetiu durante os dois primeiros anos de governo, vai ao encontro de uma realidade: a instabilidade financeira com uma inflação que se projeta acima de 30% no ano, uma taxa de juros de 46,5% para conter a desvalorização do peso e um incipiente processo recessivo, afastam os investidores que preferem a aposta segura do aumento da taxa de juros nos Estados Unidos.

"A inflação é uma grande problema que também nos impede de receber mais investimentos", reconheceu Macri, para quem "não foi fácil domar a inflação" e para quem o desafio continua sendo "prioridade absoluta".