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Destino de Capacetes Brancos acolhidos na Jordânia ainda é incerto

23/07/2018 23h00

Centenas de membros da organização civil capacetes brancos continuam bloqueados no sul da Síria, um dia depois da evacuação organizada por Israel.

Danielle Ferreira, correspondente da RFI na Jordânia

No sábado, o Exército israelense evacuou membros da organização “Capacetes Brancos” e suas famílias do sudoeste da Síria. Israel chamou a ação de “gesto humanitário excepcional” feito a pedido dos Estados Unidos, Canadá e países europeus. No domingo (22), 422 sírios foram transferidos para a Jordânia, segundo a agência estatal de notícias.

O Ministério de Relações Exteriores da Jordânia diz que permitiu a entrada dos sírios por razões humanitárias. Em um comunicado, o governo diz que houve o compromisso por parte do Reino Unido, Alemanha e Canadá de realocar essas pessoas. Além disso, a Jordânia afirmou que a passagem desses refugiados pelo país está sob responsabilidade da Organização das Nações Unidas (ONU). A ONU afirma que os Capacetes Brancos estão em risco e que está apoiando sua busca de asilo nos países envolvidos na operação.

Desde junho, o governo da Síria faz ofensiva para retomar território no sudoeste do país. Recentemente, as ações militares levaram a uma grave crise de refugiados na fronteira da Síria com a Jordânia e Israel. Mesmo assim, o governo jordaniano só permitiu a entrada de pessoas que precisavam de tratamento médico urgente.

Para responder aos bombardeios feitos pelo regime sírio no início da guerra, grupos de voluntários começaram a se organizar. Eles removiam pessoas dos escombros, providenciavam atendimento médico e enterros. Os membros dessa organização de defesa civil ficaram conhecidos como “Capacetes Brancos”. São cerca de três mil pessoas que atuam na Síria. Eles recebem financiamento e treinamento dos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e países europeus. Em 2017, um filme sobre o grupo ganhou o Oscar de melhor documentário em curta-metragem.

Após as ações militares do governo sírio e da Rússia, os “Capacetes Brancos” deixaram as áreas controladas por grupos rebeldes. Eles se dirigiram à região das Colinas de Golã, ocupadas por Israel. Por isso o exército israelense realizou a operação de evacuação. Devido à sua atuação na guerra, os Capacetes Brancos estariam em risco agora que a região está voltando ao controle do governo sírio. Repetidas vezes eles denunciaram os resultados de ações militares contra a população.

Bashar al Assad é contra atuação dos Capacetes Brancos

O governo de Bashar al-Assad é claramente contrário aos “Capacetes Brancos”. Em comunicado, a agência de notícias estatal síria afirmou que eles atuam em “locais onde organizações terroristas estão posicionadas”. O governo do Canadá afirmou que está liderando um esforço internacional para garantir a segurança dos Capacetes Brancos e seus familiares.

A ministra de Relações Exteriores, Chrystia Freeland, disse que o Canadá é um “parceiro chave dos Capacetes Brancos e está orgulhoso de ter providenciado financiamento para apoiar seu treinamento de emergência e para aumentar o número de mulheres” na organização.

Proteção imediata

A Jordânia não informou onde os refugiados vão ficar enquanto aguardam sua transferência para a Alemanha, Canadá e Reino Unido. O governo disse apenas que será em uma “área fechada” no país. Os membros dos “Capacetes Brancos” poderão permanecer em território jordaniano por até três meses apenas. O governo britânico afirmou que os voluntários necessitam de “proteção imediata”. No entanto, não informou quantas pessoas serão acolhidas no Reino Unido, por exemplo.

Até o momento, não está claro como foi o processo de escolha das pessoas que foram evacuadas. O governo da Jordânia afirmou que, inicialmente, o grupo seria maior, chegando a 800 pessoas. Entretanto, oficialmente, apenas 422 sírios entraram no país. A ONU afirma que as hostilidades no sul da Síria continuam. Há cerca de 140.000 pessoas deslocadas internamente. Além disso, a província de Idlib, no norte do país, ainda é controlada por grupos rebeldes. Estima-se que esse é o próximo alvo das ações militares do governo da Síria.