Destino de Capacetes Brancos acolhidos na Jordânia ainda é incerto
Danielle Ferreira, correspondente da RFI na Jordânia
No sábado, o Exército israelense evacuou membros da organização “Capacetes Brancos” e suas famílias do sudoeste da Síria. Israel chamou a ação de “gesto humanitário excepcional” feito a pedido dos Estados Unidos, Canadá e países europeus. No domingo (22), 422 sírios foram transferidos para a Jordânia, segundo a agência estatal de notícias.
O Ministério de Relações Exteriores da Jordânia diz que permitiu a entrada dos sírios por razões humanitárias. Em um comunicado, o governo diz que houve o compromisso por parte do Reino Unido, Alemanha e Canadá de realocar essas pessoas. Além disso, a Jordânia afirmou que a passagem desses refugiados pelo país está sob responsabilidade da Organização das Nações Unidas (ONU). A ONU afirma que os Capacetes Brancos estão em risco e que está apoiando sua busca de asilo nos países envolvidos na operação.
Desde junho, o governo da Síria faz ofensiva para retomar território no sudoeste do país. Recentemente, as ações militares levaram a uma grave crise de refugiados na fronteira da Síria com a Jordânia e Israel. Mesmo assim, o governo jordaniano só permitiu a entrada de pessoas que precisavam de tratamento médico urgente.
Para responder aos bombardeios feitos pelo regime sírio no início da guerra, grupos de voluntários começaram a se organizar. Eles removiam pessoas dos escombros, providenciavam atendimento médico e enterros. Os membros dessa organização de defesa civil ficaram conhecidos como “Capacetes Brancos”. São cerca de três mil pessoas que atuam na Síria. Eles recebem financiamento e treinamento dos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e países europeus. Em 2017, um filme sobre o grupo ganhou o Oscar de melhor documentário em curta-metragem.
Após as ações militares do governo sírio e da Rússia, os “Capacetes Brancos” deixaram as áreas controladas por grupos rebeldes. Eles se dirigiram à região das Colinas de Golã, ocupadas por Israel. Por isso o exército israelense realizou a operação de evacuação. Devido à sua atuação na guerra, os Capacetes Brancos estariam em risco agora que a região está voltando ao controle do governo sírio. Repetidas vezes eles denunciaram os resultados de ações militares contra a população.
Bashar al Assad é contra atuação dos Capacetes Brancos
O governo de Bashar al-Assad é claramente contrário aos “Capacetes Brancos”. Em comunicado, a agência de notícias estatal síria afirmou que eles atuam em “locais onde organizações terroristas estão posicionadas”. O governo do Canadá afirmou que está liderando um esforço internacional para garantir a segurança dos Capacetes Brancos e seus familiares.
A ministra de Relações Exteriores, Chrystia Freeland, disse que o Canadá é um “parceiro chave dos Capacetes Brancos e está orgulhoso de ter providenciado financiamento para apoiar seu treinamento de emergência e para aumentar o número de mulheres” na organização.
Proteção imediata
A Jordânia não informou onde os refugiados vão ficar enquanto aguardam sua transferência para a Alemanha, Canadá e Reino Unido. O governo disse apenas que será em uma “área fechada” no país. Os membros dos “Capacetes Brancos” poderão permanecer em território jordaniano por até três meses apenas. O governo britânico afirmou que os voluntários necessitam de “proteção imediata”. No entanto, não informou quantas pessoas serão acolhidas no Reino Unido, por exemplo.
Até o momento, não está claro como foi o processo de escolha das pessoas que foram evacuadas. O governo da Jordânia afirmou que, inicialmente, o grupo seria maior, chegando a 800 pessoas. Entretanto, oficialmente, apenas 422 sírios entraram no país. A ONU afirma que as hostilidades no sul da Síria continuam. Há cerca de 140.000 pessoas deslocadas internamente. Além disso, a província de Idlib, no norte do país, ainda é controlada por grupos rebeldes. Estima-se que esse é o próximo alvo das ações militares do governo da Síria.
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