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Entre expectativas frustradas e conquistas sólidas, BRICS completam primeira década de existência

24/07/2018 23h00

Começa nesta quarta-feira (25), a décima cúpula dos BRICS, o grupo de países emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Entre os maiores feitos nestes dez anos, está a criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS, em 2015, com foco em projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável.

Para Jorge Arbache, Secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, hoje a instituição é competitiva porque oferece taxas baixas e condições atrativas de financiamento. Segundo ele, o banco está em pleno funcionamento e importantes iniciativas têm sido alcançadas através dele.

“Neste ano, no Brasil, nós acabamos de aprovar no Ministério do Planejamento dois projetos do Banco dos BRICS com os estados do Maranhão e do Pará. Tem vários outros projetos em desenvolvimento. O Banco dos BRICS fez uma importante operação com o BNDES, foi a primeira operação do banco com um cliente. Outros projetos estão em discussão no Brasil e muita coisa já está acontecendo também na China, na Índia, na Rússia e na Àfrica do Sul.”

Para Marcos Troyjo, codiretor do laboratório dos BRICS da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, o banco dos BRICS tem a vantagem de trazer uma proposta diferente para o cenário internacional, sem competir com instituições financeiras mais antigas, mas precisa enfrentar desafios para se consolidar no cenário global.

“Eu acho que ele tem sido muito pragmático, mostrando que ele não veio à existência para desafiar outras instituições como o Banco Mundial, bancos regionais, Banco Interamericano de Desenvolvimento. Ele fez uma opção muito clara por financiar projetos de desenvolvimento sustentável. Agora, num determinado momento ele vai ter que responder a novos desafios, por exemplo, ele mantém a sua estrutura com cinco países ou vai incluir novos membros? Provavelmente grandes países emergentes como Indonésia e México poderiam também participar da estrutura de governança do banco”, argumenta.

10 anos de história

O bloco, criado em 2009, foi constituído em torno da ideia de reunir potências econômicas emergentes e propor uma força alternativa no cenário global. Nestes quase dez anos, no entanto, muitas expectativas não foram concretizadas, como explica Troyjo:

“A profecia de certa forma foi cumprida quando você estuda China e Índia, dois países que crescem muito, e foi uma decepção no que diz respeito e Rússia e Brasil. Na tentativa de reforma da ordem internacional, acharam por bem incluir um representante do continente africano e esse país foi a África do Sul, que assume a presidência do BRICS, como aliança para tentar democratizar as estruturas de poder no mundo.”

A reunião que começa nesta quarta-feira em Johanesburgo terá temas comerciais no centro da pauta. Para Troyjo, alternativas para aumentar o fluxo global de investimentos e comércio para fazer frente à guerra comercial que paira no ar devem ser um dos temas discutidos.

Arbache lembra que os países do bloco já tiveram uma atuação econômica importante na busca de alternativas à crise econômica de 2008. “Durante períodos críticos como a crise do Lehman Brothers, os países dos BRICS conseguiram se coordenar, o que permitiu que esses países tivessem um protagonismo no retorno à normalidade econômica”, explica o secretário.