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Ondas de calor: especialistas alertam que é impossível voltar a ter "um clima normal"

26/07/2018 13h08

Da França à Suécia, passando pelo Canadá e o Japão, o hemisfério norte sufoca com as ondas de calor durante este verão.

Algumas cidades da França registram 38°C, enquanto a chuva não chega na Suécia há três meses, que também sofre com o verão mais quente dos últimos dois séculos. A tragédia se estende ao Japão, onde mais de 80 pessoas morreram no Japão devido as temperaturas que ultrapassam 40°C. Os termômetros batem recordes também nos Estados Unidos e no Canadá: Los Angeles marcou 40°C e, no Québec, a sensação térmica é de 45°C. 

"Geralmente, há ondas de calor em uma parte do planeta, mas atualmente a totalidade do hemisfério Norte sofre com o calor, é assombroso", afirma Anders Levermann, climatologista no Postdam Institute for Climate Impact Research (PIK).

Nos últimos anos, as ondas de calor se tornaram frequentes até mesmo em locais onde os verões eram amenos antigamente. A tendência, no entanto, é que episódios de altas temperaturas se repitam cada vez mais e, inclusive, "se tornem normais", diz o climatologista francês Robert Vautard, diretor de pesquisa do Laboratório de Ciências do Clima e do Meio Ambiente (LSCE).

Entrevistado pela France Info, o especialista explica que as ondas de calor atuais são uma consequência direta do aquecimento global. "Não poderemos voltar a ter um clima normal, mesmo diminuindo as emissões de CO2. Poderemos conter e limitar a progressão do calor, mas as temperaturas dependem dos gases de efeito estufa, que já estão na atmosfera, e diminuir os níveis de CO2 é extremamente difícil. Contrariamente à poluição, cujas partículas podem ser eliminadas de forma relativamente rápida, essas emissões de gases de efeito estufa são dificilmente eliminadas", afirma.

Consciência e ação

Segundo Vautard, é preciso que as pessoas estejam conscientes de que a situação não pode ser revertida e será necessário se adaptar. Apesar de parecer óbvio que é preciso combater o problema, algus governos, como o americano, não tratam a questão como prioritária. "O clima está em segundo plano em relação aos assuntos que eles julgam imediatos", avalia.

A segunda etapa, diz o climatologista, é agir em diversas instâncias, começando por investir ao máximo em uma energia zero carbono, que não emita gás carbônico. O foco do problema, segundo Vautard, não está na Europa, mas nos países em desenvolvimento. "Não devemos culpá-los, mas é preciso sobretudo pensar em como ajudá-los para que eles se desenvolvam de uma forma diferente. Não é apenas um desafio para eles: todo mundo deve se envolver", conclui.

Segundo um estudo publicado em 2017 na revista Nature Climate Change, mesmo que se respeite os compromissos acertados no Acordo de Paris sobre o Clima, metade da população mundial seria exposta a ondas de calor até 2100. Atualmente, apenas 30% sofre com o fenômeno.

Com o ar mais quente e a vegetação mais seca, os incêndios também devem se multiplicar. De acordo com a Comissão Europeia, 2017 foi um dos piores anos de incêndios na Europa, com 800.000 hectares queimados em Portugal, Espanha e Itália. Estudos estimam que as superfícies suscetíveis a queimarem no sul da Europa poderiam aumentar de 50% a 100% durante o século XXI, dependendo da intensidade do aquecimento global.