Médicos são demitidos de hospital na Nicarágua por socorrer feridos em protestos
O chefe do departamento de cirurgia e endoscopia do hospital, Javier Pastora, declarou que os recursos humanos da instituição indicaram que as demissões aconteceram "porque fomos solidários e apoiamos os manifestantes".
O médico, que também foi demitido, trabalhava há 33 anos no sistema público de saúde da Nicarágua. Segundo ele, entre os despedidos há oito especialistas, três enfermeiras e um técnico de laboratório.
O cirurgião oncologista Aarón Delgado contou as controversas circunstâncias de sua demissão. "Estava em uma cirurgia quando chegaram dos recursos humanos para me dizer que fosse à direção porque estava demitido", revelou.
Já o pediatra Edgar Zúñiga, também despedido, denuncia a decisão como "arbitrária e sem justificativa". "Fomos demitidos apenas por pensar diferente, (por dizer) que na Nicarágua precisamos de democracia, liberdade, o fim da repressão e das mortes, e mais diálogo".
Um protesto foi realizado na sexta-feira diante do hospital para exigir que os médicos e enfermeiras sejam reintegrados.
Violação do direito ao trabalho
O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) condenou a demissão dos profissionais, alegando que ela viola o "direito ao trabalho". "O único responsável por este atropelo é o presidente Daniel Ortega, que pretende manter funcionários públicos submetidos ao seu sistema corrupto", criticou a organização em um comunicado.
León, um tradicional bastião sandinista, foi alvo de violentas incursões da polícia de choque e de paramilitares após o início dos protestos contra o governo, em 18 de abril.
Segundo grupos humanitários, a repressão aos protestos já deixou mais de 300 mortos e 2 mil feridos, muitos socorridos por médicos voluntários fora dos hospitais, diante da suposta recusa de órgãos públicos de saúde de prestar atendimento aos opositores de Ortega.
(Com informações da AFP)
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